Ao teu ouvido

Sim, meu amante amado ... ao ouvido te digo:

Que ao som sentido de um Fado antigo

do meu corpo dedilhado, tensas cordas

de uma guitarra, dançarei odalisca,

moira encantada, dança (e)terna do ventre,

de ti enamorada.

Farei d'ondulado mar uma secreta estrada.

De cada virgem vaga, transparente alvorada.

Edificarei na espada cravada no lual monge,

no ventre da noite que tomba, ancora madrigal,

perpetuamente afirmada. Um pilar, um umbral!

E na saliva da minha trigueira boca beijada

terás assegurado o teu casto alimento

e o travo agridoce do refresco suculento

de uma fruta silvestre.

E quando de lá da acerejada planície

os brilhos todos lunares

incendiarem o palco real dos afectos

encontrarás no tear dos meus braços,

prímulas, rosas, abetos - preludiares

alfabetos -, e os elevos mais confessos...

E no momento em que a cândida madrugada,

envergonhada chegar, meu amado encantado,

te juro não encontrará em nenhum lado,

espaço algum para ficar.

Que aqui neste lugar

mora o Sol em permanência, iluminando

a caverna crepuscular, provindo de outra vida.

É alfarrábio, é processo, é de nós reminiscência ...

É o regresso da raiz ao colo e ao seu berço...

Este colo que te ofereço!!!!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 17/03/2007
Código do texto: T415656
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