Linhas metálicas

Corcéis de chama acerejada talham as noites

de mistérios fundeados. Albatrozes

sussurram voos erráticos, circunstanciais,

no acasalamento primaveril dos animais.

Aqui ao lado na estação, um comboio

desocupado, projecta na colina adjacente

enlaces resplandecentes.

Observo. Lado a lado, duas linhas paralelas

se avistam e não se tocam, mutuamente se reflectem

mutuamente se amam, mutuamente se desejam.

Ladeadas, duas férreas linhas metálicas borbulham-se

em margens explosivas. Sibilam faúlhas ávidas.

Na fronteira do medo, dois amantes

segredam cânticos enamorados no vento soprado

nas espumadas pálpebras do fim dos dias.

Um conto envolto em véus turbulentos. Alegorias.

Voláteis, asas de gaivotas

espumam-se na melancolias de ondas...

Olho através da vidraça. Agora o comboio

desliza numa sombra felina que passa.

Na boca de uma mulher, resvala uma gota de prata.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 19/03/2007
Código do texto: T417871
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