Dançarina do sétimo céu

Existem mais vidas dentro de você do que eu posso contar.

Na verdade, existe tanta coisa guardada aí que nem mesmo você,

do alto dos seu sorriso fácil, sabe identificar com clareza algumas delas.

Existe muita gente querendo sair, gente passando,

transitando de todos os lados.

Há lugar especial pra cada um dentro dos seus conjuntos,

inseridos nos mínimos pedaços infinitos de universo que você cultiva,

mas é universo próprio. Universo próximo e tangível,

onde fica claro que você está ali, perto o suficiente pra chorar no ombro,

perto o suficiente pra ouvir a voz sem precisar de eco.

Sua especialidade é abrigar história e propagar sorrisos.

Sorrisos que nem sempre são sorrisos.

Sorrisos com cara de fuga. Sorrisos de dois lados,

mas ainda assim são sorrisos. Mesmo que só sejam o que são

pelo tempo que cabem no rosto.

De vez em quando, quando ser você pesa mais do que dá pra aguentar,

você cede, dá espaço pra um misto de alegria e dor,

uma mistura de lembranças atordoantes, presente saboroso e delicado,

e um futuro repleto de incongruências atordoantes.

Você não é indecifrável.

Muito menos quer ou precisa ser.

Seu paraíso particular é convidativo, de uma energia pulsante

que contrasta com aquelas rodelas escurecidas que você,

não sei se por capricho ou por mero desleixo,

cisma em cultivar ao redor dos olhos.

É tudo uma questão de harmonizar,

ser e sentir comungados no mesmo invólucro natural,

uma sinestesia concreta, sentimento puro e vivacidade transbordante,

ambivalência crônica lapidada na tristeza bruta

e banhada pela camada mais bonita de felicidade colorida.

O importante é o que você vê, não pra onde você olha.

Eu olho pra você e vejo um objeto não identificado,

um anticomputador sentimental, como diria uma canção que ouvi.

Um objeto que não é objeto. Um ser feito de outros seres,

um alguém que não é nada mais do que aquilo que escolheu pra si.

Alguém que escolheu pra si ser apenas aquilo

que comportaria dentro de si.

Mas acabou percebendo que não pode comportar tanta evidência

dentro de um simples ser.

E foi daí que surgiram todos os seus encantos, prazeres e angústia.

Tudo surgiu da veemência da sua própria existência,

da grandeza faraônica da sua simplicidade.

Da força benevolente dos cabelos bagunçados,

da teatralidade das suas dinâmicas...

Tudo surgiu de um rabo de cometa.

Algo que devia ser passageiro, um rastro que acabou virando caminho.

Um pedaço de sonho com cara de realidade.

Você sendo nada mais e nada menos que Beatriz,

sem precisar de definição.

Só precisando de um lugar pra chamar de seu

e algumas pessoas pra guardar junto do seu mundo ocasiões.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 09/03/2013
Código do texto: T4180205
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