As mãos que tenho hoje.

I

Eu não teria

as mãos que tenho hoje

se ao afago

as carícias

não tivessem teu toque.

Não seriam

as mãos que angélicas

se entrecruzam

os dedos. Se declaram.

E se mesclam...

Não, não seriam

as mãos que de seda

percorrem o corpo...

(arrepio)

... não seriam tampouco

as de unhas afiadas

a causar a dor

que tu gostas.

II

Por um tempo

eram vergonha

ter mãos que ágeis

iam aos recantos

que íntimos se ocultavam.

Por outro era desejo

ter mãos que te

despissem

involuntariamente

das roupas:

da blusa

do blazer,

das meias

dos sapatos...

Por um tempo ainda,

as mãos se escondiam

por serem mãos de fada

que a cada toque

queriam desvendar teu truque,

e ainda outro...

as mãos de açoite

que rejeitavam

com fúria

a luxúria de teu toque.

III

As mãos hoje

não ofendem

não maltratam

não empurram

nem afastam.

As mãos hoje

não pedem basta

apenas te envolvem

de acolhem,

se dispõem

de canções

e te abraçam!