Regicidio

Mil novecentos e onze, mês de Junho,

Dezanove, assembleia constituinte reunida,

Nesta primeira vez deixa seu cunho,

Revolução republicana é admitida,

Monarquia perde toda a renda de seu punho,

República democrática é instituída.

Ainda antes do ano de onze terminar,

Nova constituição se virá a adoptar.

Monárquicos não desistiram de sonhar,

D. Manuel segundo não acredita,

O regime em Portugal irá mesmo mudar,

Eleição Presidencial assim o dita,

Manuel de Arriaga nos irá comandar,

A lusa história continua a ser escrita.

D. Manuel segundo perdeu a coroa,

Perdeu a actriz, sem esquecer Lisboa.

D. Vitória Augusta lhe dá moral,

Filha de príncipes nunca será rainha,

Casa com o ex-soberano de Portugal,

Quando este, já coroa não tinha,

Nunca recebendo tal título oficial,

Entre monárquicos como tal se mantinha.

D. Manuel, na Primeira guerra mundial,

Honra e prestigia a história de Portugal.

Reis; Rainhas; Fidalgos, Navegadores,

Muitos deles já aqui os cantei,

Suas taras; paixões; intrigas e desamores,

Verdades ou mentiras, nem eu as sei,

Importa-me mais seus feitos maiores

Desta Lusa Pátria que herdei.

Longos e altos feitos de filhos Lusitanos,

Que os honrem, os ideais republicanos.

Que brilhem as luzes da glória

Perante tão valorosos guerreiros.

Portugueses de boa memória

Não esquecem seus heróis pioneiros,

Cantarão o hino da vitória,

Abominando ignobeis actos traiçoeiros.

Heróis, esses que tentarei cantar

Se Deus assim o quiser e me ajudar.

Voltemos alguns anos atrás,

Mil novecentos e onze, concretamente,

Por caminhos sinuosos a história se faz,

Um monárquico é eleito presidente,

Não que não houvesse mais gente capaz,

Simplesmente terá sido obra de um vidente.

Ano de mil oitocentos oitenta e dois,

Quatro espíritas vêem o destino anos depois.

Um advogado, jovem não monárquico,

De nome completo e bastante comprido,

O que se tornaria muito pouco prático,

Ignora que seu destino vai sendo decidido,

Uma mesa de pé de galo, dramático,

Um quarteto de espíritas está aqui reunido.

Eis que um espírito faz sua aparição,

Não é um espírito qualquer, é D. Sebastião.

“A República Portuguesa será implantada

Pelas armas, a nação terá prosperidade…,

Ah como a visão estava tão enganada,

…Manuel de Arriaga terá a responsabilidade

De presidir à República recém-criada.”

Visão ou não, viria a tornar-se realidade.

Manuel José de Arriaga Brum da Silveira

E Peyrelongue, monárquico de primeira.

Muito aconteceria no reino de Portugal,

Até que se concretizasse tal visão,

Pequenas querelas, assassínio real,

Tumultos, conflitos, e uma revolução,

Mas ainda não chegara o momento ideal

Para Manuel de Arriaga assumir a nação.

Só em mil novecentos e onze, Agosto,

O septuagenário estaria em seu posto.

Grande ironia do nosso Luso destino,

Ser um professor septuagenário

A tomar conta deste tão jovem menino,

Portugal Republicano, extraordinário,

A instabilidade ainda toca o sino,

Vive-se período de cariz revolucionário.

Mil novecentos e dez, decreto governamental

Nomeara governo provisório para Portugal.

Governo por Teófilo Braga chefiado,

Que inclui ilustres individualidades,

Afonso Costa; Bernardino Machado,

Que assumiria maiores responsabilidades,

Tal como outro, a ministro chamado,

António José de Almeida, difíceis tardes.

Havia que cortar com laços da monarquia,

Pela denominação dos ministérios começaria.

Ministério do Reino, no regime anterior,

Um dos que teriam forçosamente de mudar,

Assim sucedeu, passou a ser do “Interior”,

Da Fazenda, “Finanças” se passou a chamar,

Obras Públicas como Fomento ficou melhor,

Muitos obstáculos havia que contornar.

Basílio Teles nem toma posse, recusa o convite,

O país não pára, José Relvas é o seguinte.

Serão tempos de grandes transformações,

Extinguem-se privilégios da igreja,

Títulos nobiliárquicos sofrem extinções,

Mas também se vivem tempos de inveja,

De boatos, guerrilhas, denúncias, deserções,

Dignidade humana é direito que se deseja.

Altera-se o hino nacional, “A Portuguesa”

Moeda e bandeira nova tornam-se certeza.

É neste estado de verdadeira ebulição

Que Manuel de Arriaga, ilustre Açoriano,

Assume as rédeas dos destinos da nação,

Nascido em ambiente rico, calor humano,

Partilha sua mocidade com muito irmão,

Cinco, mas riqueza também não era engano.

Ainda bastante jovem, em terra Açoriana,

Aprende inglês com professora Americana.

Cursa direito, vinte e um anos de idade,

Cumprindo sonho da família, ambiciosa,

Coimbra é seu destino, sua universidade,

Revela-se republicano, viagem perigosa,

Seu pai não o apoia, diz-lho sem piedade,

Retira-lhe a mesada, tão precisa e valiosa.

Falta o dinheiro do pai, há que lutar,

Um seu irmão precisa que o possa ajudar.

Ousara seguir as pisadas de seu mano,

Seu pai não hesitara, novamente,

Filho seu não poderia ser republicano.

Manuel de Arriaga não cede, vai em frente,

Lisboa é seu destino, após o último ano,

Onde começa a exercer, não está contente.

Seu grande sonho é mesmo ser professor,

Mas as coisas não lhe correm pelo melhor.

Jovem loiro, de olhos azuis, aristocrático,

Vai conquistando corações femininos,

Mente revolucionária fá-lo ser prático,

Vai vivendo seus romances traquinos,

Longe dos Açores e do pai monárquico,

Até que Lucrécia faz soar todos os sinos.

Menina com dotes de Inglês e Francês,

Irá conquistar seu coração de vez.

Natural da Figueira da Foz, com ancestrais

Nas ilhas Atlânticas, é grande amante,

Da boa música, são tudo dons naturais.

Trinta e quatro anos, conta o futuro governante,

Quando troca promessas nupciais,

Mosteiro de Ganfei recebe cerimónia elegante.

Pai da noiva era. Ali, homem influente,

Manuel de Arriaga não passava indiferente.

Fosse ali, perto de Valença do Minho,

Fosse em Buarcos, nas férias de verão,

Mantinha sempre sua pose, aprumadinho,

Sobrecasaca e casaca, em perfeita união,

Lucrécia de Brito o mimava com carinho,

Apoiando-o na sua velha aspiração.

Mil oitocentos setenta e cinco, a alegria,

Casado há um ano, liceu de Lisboa o recebia.

Nem só de alegrias se constrói a vida,

Também há espaço reservado à tristeza,

Nesse ano, irmão mais velho vai de partida,

Seis anos depois é seu pai. Lei da natureza,

Recupera então a herança perdida,

Trocava-a por paterno abraço, de certeza.

Lucrécia Brito vai-lhe atenuando a dor,

Dando-lhe filhos, frutos de muito amor.

Além de ser visto como revolucionário,

Manuel de Arriaga era um idealista,

Intenta reformar o ensino secundário,

Nada o atemoriza nem faz com que desista,

São ideais puros, em estado embrionário,

Que começam a ser luz do fim em vista.

Recusar um, real, convite para professor

Custa-lhe uma demissão de grande dor.

Príncipe D. Carlos e D. Afonso, infante,

Constituíam par de alunos reais,

Manuel de Arriaga recusou e num instante

Era demitido do que gostava mais,

Não lhe dariam nenhum outro estudante.

Antes demitido que abdicar dos ideais.

Homem firme, de ideias bem definidas,

Não pensassem vê-lo em lutas perdidas.

Adere ao Partido Republicano Português,

É eleito para a camara dos deputados,

Poderiam tentar derrubá-lo outra vez,

Ah como se sentiriam defraudados,

Pensarem que cederia, ah tanta estupidez.

Inflamam-se os ânimos de ambos os lados.

Enfrenta-os e, num gesto de estoicidade,

Propõe o fim do juramento a sua majestade.

Não vivendo no mundo da ilusão,

Sabia que sua proposta estava condenada,

Mas, tal, mais não era que o embrião

Da mudança há tanto, por si, desejada.

Seus ideais o levarão ao frio da prisão,

Não aceita ver sua Pátria ser ameaçada.

Que venha lá quem vier, sejam Ingleses

Ou outro qualquer, nós somos Portugueses.

Retirar dos territórios entre Angola

E Moçambique, ou teremos guerra,

Não aceita que Portugal aceite a esmola,

Há que defender aquele pedaço de terra,

Parecemos pássaro preso na gaiola,

Procurando evitar o gato, a Inglaterra.

Já que sua irreverência não se acalma,

Vai, sob prisão, para o Vasco da Gama.

Ali naquele navio de guerra, aprisionado,

Assiste ao desenrolar dos acontecimentos,

Só por amnistia Real será libertado,

Monárquicos temiam seus argumentos,

Não só era homem incómodo, era arrojado,

Como se veria em delicados momentos.

Manuel de Arriaga defende, no tribunal,

António José de Almeida, por injúria real.

Fazia-o somente por pura convicção,

Não imaginava defender futuro presidente,

República era o sangue do seu coração,

Fosse outro o acusado e nada seria diferente.

Dez anos na camara de deputados, a decisão,

“Vou-me, até que possa defender a Lusa gente.”

Sentindo-se desiludido, resolve viajar,

Florença; Roma; Londres e Paris, vai visitar.

Paris, ano de mil e novecentos,

Tem o prazer de assiste à exposição Universal,

Nunca esquecerá tais momentos,

Reforça seus ideais de um novo Portugal,

Recusa-se a aceitar todos os tormentos

Que vão impondo ao povo, brutal.

Condes, Duques, Rei e outros tantos,

Cometem injustiças e fazem-se de santos.

Começaram por ser os idealistas,

Pronto se juntaram os impacientes,

Difundiam ideias mais belicistas,

Não acreditavam as palavras suficientes,

Era preciso procurar outras pistas,

A luta armada bailava nas suas mentes.

Eis a Carbonária, braço da Maçonaria,

Sangue, ele surgirá mais dia, menos dia.

Não se tratam por irmãos, na Carbonária,

Como o fazem no seu lado diplomático,

Aqui são “primos”, forma extraordinária

De tratar por homens dados ao prático,

Faziam da luta a sua indumentária,

Peça essencial naquele jogo esquemático.

Quantos, sim quantos, não pertenciam

A ambas, todos fingiam que não sabiam.

Os regicidas eram das suas fileiras,

Ganhava força o ideal Republicano,

D. Manuel procurava derrubar barreiras,

Não conseguia impor-se como soberano,

Escapara à morte mas não às asneiras

Que seu pai cometera por tanto ano.

Começava a despontar nova paixão,

Futebol, nem isso impedia a revolução.

Vive-se em descontentamento geral,

Horários penosos, imensos desempregados,

Culpas atribuídas ao desnorte real,

D. Manuel não consegue inverter os dados,

Há fome entre o povo de Portugal,

Monárquicos começam a ficar isolados.

Militares, Carbonária, Maçonaria,

Aliam-se para derrubar a monarquia.

Quatro de Outubro, mil novecentos e dez,

Grupo de militares, armados de canhões,

Instalam-se na rotunda, agora sim é de vez,

Homens da Carbonária tomam posições,

Movem-se pela capital do reino Português,

Pontos-chave da cidade sofrem perturbações.

Revoltosos invadem dois cruzadores,

Adamastor e S. Rafael, são danos maiores.

Bombardeiam o Palácio das Necessidades,

Tal como fazem o mesmo com o Rossio.

D. Manuel, ignorando tais actividades,

Joga calmamente às cartas, sente um arrepio,

Prevê que aí vêm tempos de dificuldades,

Portugal vive momentos como nunca se viu.

Sossego de Sintra, D. Amélia e D. Maria Pia

Desfrutam, ignorando tudo que se vivia.

Vão para Mafra, espera-as D. Manuel,

D. Maria Pia mostra-se muito incomodada,

Numa tentativa de manter o seu papel,

Diz, ao motorista: “Vá devagar pela estrada,

Não quero que pensem que fujo.” Fiel,

Ignorava que em breve bateriam de retirada.

Ericeira, no iate real Amélia irão embarcar,

Monárquicos dominados, república a triunfar.

Cinco de Outubro, baixa Lisboeta,

Varanda dos Paços do concelho, euforia,

A implantação da República está certa,

Canta o povo, Portugal rejubila de alegria,

Nascem novos heróis na caneta do poeta,

Não morrem os que ficaram da monarquia.

Após se registarem sessenta e um mortos,

E mais de quatrocentos feridos, sorriem os rostos.

À data de todos estes Lusos acontecimentos,

Estava Manuel de Arriaga retirado,

Escrita e família davam-lhe calmos momentos,

Apesar de, tal mudança, sempre ter apoiado,

Não deixou de mostrar seu lamento,

Por tão cedo, a revolução, se ter dado.

Tê-lo-á confessado ao amigo Raul Brandão,

Desconhece o destino traçado numa visão.

Avô, de cabelo já bem esbranquiçado,

Manuel de Arriaga sente aguçar-se o apetite,

Reitor de Coimbra, o desafio está lançado,

Não tem como recusar honroso convite,

Logo depois novo desafio, chefe de estado,

Aceita de novo, não sem que ainda hesite.

Lisboa, principal centro politico da nação,

Tem o dobro do Porto, falando de população.

Abril de mil novecentos e onze, editais

Informam condições necessárias para votar,

São publicações feitas através dos jornais,

Saber e escrever é condição a observar,

Ser chefe de família, uma das outras mais,

Mulheres, isso nem era coisa de pensar.

Oitocentos quarenta e seis mil, oitocentos e um,

Números de homens recenseados, a olho nu.

Nem todos votariam, longe de tal suceder.

Eis que surge episódio inesperado,

Carolina Beatriz, mesmo sendo mulher,

Desejava votar, sucedia que tinha enviuvado

E trabalhava, era médica, para sobreviver,

Uma filha menor a seu cargo tinha ficado.

Apresenta-se, convicta, a recenseamento,

Recusam, desconhecem seu temperamento.

Não desiste, recorre ao tribunal,

Chefe de família pode ser uma mulher,

Será ela a cantar vitória final,

Carolina vota, não tinha como não ser.

Não se repetiria em próximo acto eleitoral,

Sociedade machista trata de se precaver.

Mulheres veem-se impedidas de votar,

Mas novos terrenos começam a conquistar.

Outra Carolina, Michaellis, é professora,

Mas numa universidade, grande conquista,

Função pública, fechada até agora,

Abre-se às mulheres, mudanças à vista,

Ministério das Finanças, um tabu outrora,

É mundo onde a mulher também se alista.

Portugal promete trabalhar na igualdade,

Desconfiam, as mulheres, de tanta facilidade.

Ano mil novecentos e onze, mês de Março,

Estão estabelecidas condições necessárias

Para o exercício do poder, próximo passo,

Assembleia Nacional Constituinte, são várias

As correntes presentes naquele enorme maço,

Todas elas eivadas de ideais extraordinárias.

Duzentos e dezassete, o número de deputados,

Ocupam lugares arduamente disputados.

O povo, através deles, ali representado

Quem vai eleger o primeiro presidente,

Manuel de Arriaga e Bernardino Machado

Sujeitam-se ao veredicto daquela gente,

O primeiro ganha e vê-se mandatado

Para presidir aos destinos desta Lusa gente.

Novo regime, nova bandeira, novo hino

Nova moeda, que também novo seja o destino.

Bandeira nova a verde e vermelho,

Cores do Partido Republicano Português,

Substituíram o azul, gasto de velho,

Que renovou a bandeira, uma e outra vez.

Outro significado, só lho deu um conselho,

Ah, como durante tantos anos o fez.

Caíram os títulos honoríficos e nobiliárquicos,

Apenas se distinguirão militares fantásticos.

Portugal sonha com drástica mudança,

A jovem República traz o povo apaixonado,

É proscrita a família Bragança,

Até ao quarto grau, acabou-se o reinado,

Monárquicos ainda têm alguma esperança,

Mas não há como regressar ao passado.

Mil novecentos e onze, e doze, duas vezes,

Tentam, não lho permitem os Portugueses.

Mil novecentos e doze é ano de luto,

Francisco Lázaro, valoroso maratonista,

Morre nos jogos olímpicos, golpe bruto,

Estocolmo perde o atleta Luso de vista,

Quilómetro trinta, eis que cai um vulto,

Causa, doping é a mais recente pista.

Francisco Lázaro morreu no dia seguinte,

Portugal Republicano ficou mais triste.

Sucedem-se inúmeras conquistas sociais,

Domingo é instituído descanso semanal,

Nasce a consciência das questões laborais,

Lança-se a semente da organização sindical,

Direito à greve, uma das conquistas mais,

Crescia a confiança num novo Portugal.

Combatem-se índices, altos, de analfabetismo,

Muito faltava, mas não o optimismo.

Impossível haver só coisas boas,

Continua a enviar-se, condenados,

Para o degredo em Angola, pessoas

Que vêem ser-lhe recusados

Direitos que são Republicanas loas,

Alguns vão, por vadios, acompanhados.

Há que mostrar mão firme na autoridade,

Ninguém poderá ameaçar a liberdade.

Delfina Vítor, no Teatro Apolo era actriz,

Vê-se confrontada com singela acusação,

Ao recolher ao camarim desrespeitou o país,

Atirando uma bandeira ao chão,

Levada a tribunal escapou por um triz,

Acto devido a crise nervosa, a justificação.

Mil novecentos e catorze, unidade sindical,

É fundada a União Operária Nacional.

Revistas e jornais operários fazem a ponte,

É através deles que toda a informação

Chega aos trabalhadores, qual pura fonte

Que também contempla a diversão,

Trabalho e vida social num novo horizonte,

Ideais expressos na republicana revolução.

Manuel de Arriaga recebe um Portugal

Em aparente estado de graça, nada mal.

Ser Presidente naqueles tempos de outrora,

Também significava alguma mordomia,

Nada parecido com os tempos de agora,

Num Palacete, na Horta Seca, ele vivia,

Mas a renda saía-lhe do bolso fora,

Mil novecentos e doze, pleno verão,

Volta a pagar para poder servir a nação.

Ganha vinte e quatro contos de ordenado,

Paga cem escudos de renda, para despachar

Assuntos que dizem respeito ao estado,

Regime não quer opulência, nem esbanjar,

Ali vive, Manuel de Arriaga, de bom grado,

Sendo também ele, quem o carro vai pagar,

Seu filho é seu secretário, sem ordenado.

Doa um conto, do ordenado, a obras sociais,

Custeia tudo, até instrumentos musicais.

Enfrenta todas as dificuldades a sorrir,

Não deixando, no entanto, de se queixar,

Não se iludam, está mais pobre ao sair,

Do que estava quando foi hora de entrar,

Prova do que aqui se acaba de ouvir,

Para vender o carro, anúncio teve de colocar.

“A dificuldade pouco me importa,

Tive a vantagem de ter um polícia à porta.”

Sempre soube vestir o papel de presidente,

Mesmo quando as coisas corriam mal,

Consta que certa vez, algo muito corrente,

Não perdeu tempo numa análise real

E fez uma compra que o deixou deprimente,

Sem deixar, no momento, qualquer sinal.

Quadro de Columbano Bordalo Pinheiro,

Com uma couve, custou-lhe bom dinheiro.

Só ao chegar, ao Palácio de Belém,

Terá comentado: “Que couve tão cara”

A nível financeiro nem tudo correu bem,

Oposição politica não foi coisa rara,

Mesmo que de Republicanos também,

Caem os governos, mas ninguém o pára.

Registam-se lucros, durante três anos,

Acertaram os velhos espíritos Republicanos.

Como diz o ilustre Lusitano Povo,

“Não há…Nem bem que nunca acabe”

O Presidente enfrenta desafio novo,

Ameaçam as nossas colónias e ele sabe

Que as podemos perder num sorvo,

Indefinição é algo que aqui não cabe.

Grande instabilidade política e social

Leva muitos Portugueses a deixar Portugal.

Efectivamente o país era neutral,

Mas há que tomar uma dura decisão,

Alguns interesses de Portugal

São ameaçados por ataque Alemão,

Invadem Luso território colonial,

Não podemos permitir tal humilhação.

Angola e Moçambique estão ameaçadas,

Tropas Portuguesas para lá são enviadas.

Manuel de Arriaga procura a solução,

Dissolve o parlamento, há novo governo,

Pimenta de Castro, militar, dá-lhe a mão,

Escolhe ministros num círculo fraterno,

Reabre igreja e permite a reorganização

Dos velhos apoiantes da ideia de um reino.

Parlamento fechado, Palácio da Mitra,

Reúnem os deputados, que Arriaga se demita.

Não os contentava a pura demissão,

Era sangue o que mais desejavam,

Vêem-no como um traidor da nação,

Assassiná-lo era algo que preparavam,

Retrai-os um pequeno senão,

Reacção Inglesa, muito, receavam.

Mil novecentos e quinze, catorze de Maio,

A revolta popular eclode como um raio.

Não é ao acaso que a revolta arranca,

Grupos secretos são determinantes,

Um, o denominado “Formiga Branca”

Tem um currículo de actos arrepiantes,

Do Partido Republicano era a alavanca,

Talvez uma PIDE criada uns anos antes.

A Maçonaria era mais diplomática,

Deixava aos outros, a guerrilha prática.

Pimenta de Castro, o chefe do governo,

Recusava-se a acreditar numa revolta,

Continuou a viver a vida de modo sereno,

Fazendo dos alertas, conversa morta,

Deitou-se cedo, mas o sono foi pequeno,

Tiros de canhão bateram-lhe à porta.

Não queria mas foi obrigado a acreditar,

Dia catorze, sua demissão irá apresentar.

Mais de duzentos mortos após o inicio,

Terminava mais uma revolução,

Manuel de Arriaga sente o precipício,

Dia vinte e seis apresenta a demissão,

Saindo pelas portas do fundo do edifício,

Levando consigo, enorme desilusão.

“Só as minhas flores, as minhas telas

E os meus poetas me interessam…” Belas.

Belas as palavras com que desabafou,

Em conversa que com Augusto Castro,

Já no final da sua vida, travou.

Era um homem abatido, de rasto.

Verdade que nunca mais recuperou

De tão violento e dramático acto.

Morre em mil novecentos e dezassete,

Decorria o mês de Março, concretamente.

É enterrado, como qualquer cidadão

No cemitério dos Prazeres, sem honraria,

Dois mil e quatro, muda-se para o Panteão,

Talvez contra aquilo que mais desejaria.

Serviu o país com grande entrega e paixão,

Mantendo-se fiel aos ideais que defendia.

Eram tempos de convulsão e de guerra,

O sangue de inocentes corria sobre a terra.

Nomes que honrariam a Pátria Portuguesa,

Nasceram durante seu mandato Presidencial,

Conseguir cantá-los seria uma beleza,

Tais os feitos com que elevaram Portugal,

Uns pelas convicções, outros pela beleza

Que colocaram na divulgação do seu ideal.

A tanto não me sinto ousado,

Talvez, quem sabe, alguém mais habilitado.

Continua enquanto Portugal Viver

Francis Raposo Ferreira.

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 25/03/2013
Código do texto: T4207502
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