Eram verdes, verdes, verdes ...

Eram verdes, verdes, verdes as rudimentares caravelas

que plantara a navegar no fundo rotundo e no fulgor dum olhar,

ele próprio fundo encapelado de mar.

Eram rosas, rosas, rosas, as moderníssimas sondas

com que ouvira o rebolado batuque, o nérveo gemido,

do requebro das ondas. Brumas, provindas, quiçá de outras vidas.

Doridas, beijavam no tremor a praia, na orla da sua saia.

As vagas ... notas de amor, envoltas em redes de neblinas -

geladas e perpétuas, marítimas névoas.

Eram doces, doces, ternurentas, as ternuras analogamente

atentas. Rosas dulcíssimas, venturas purpúreas, cerejas, bagos d’uvas.Rios numerosos, mimos largos, abertos. Confessos abraços, vagarosos de lentos...

Afagos bordados a pé de flor, em passinhos cautelosos.

Meigos, pequenos, na erudição serena do desflorar uma a uma,

todas as etapas, de nudez afervoradas, da cansada jornada.

Contam as cantadeiras que, nas colinas e nas dunas, em cada uma,

lá, onde o Sol se abastecia, a cada findo dia no âmago da maresia,

dos arquétipos lamentos, despontam evidentes Salmos Divinos.

Cânticos povoam marés na voz de Ninfas, Deusas e Sereias.

Falam de mares de afectos. De amantes reencontrados na corrente

d’alfabetos. Epopeias, hinos, louvores supremos...Enaltecimentos

poéticos, versos soltos, sonetos tamanhos... Brocados singelos

beijados sem paralelo na boca dos Oceanos.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 23/03/2007
Reeditado em 29/03/2007
Código do texto: T422959
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