O ENCONTRO

Heliana Mara Soares

Onde estás, poesia? Por que não te encontro?

Será que o dia te matou? Ou, sem esperança, segues

em meio a tragédias e tanto desamor?

Quero que surjas novamente e nos meus dedos

te enlaces, renascendo em mim.

Poesia, que do amor viveu,

que dos lábios dos poetas seus versos emergiram,

onde estás?

Vagueias tão distante... Quero achar-te.

Procuro-te nas palavras de um computador,

em pedaços de papéis perdidos,

em um jornal folheado e relido.

Já não és minha.

Onde estás, poesia,

tu que a tantos olhos fizeste chorar

e que de tanta emoção te fizeste amar.

Melodia de despedida, inspiração perdida,

onde estás?

Se olho diante de mim, vejo o homem

vivendo em meio a um mundo descolorido de ternura.

Perderam-se teus versos no curso sombrio do ser.

Sem métrica, sem rima, foste despedaçada.

Não acompanhaste a agilidade da vida nem a impunidade do tempo.

O homem seguiu por outro caminho,

eleito por olhos sedentos de ter.

Tu ficaste perdida, fugiste dos meus sonhos,

fugiste de mim e nos meus olhos marcados por manchetes sujas,

contaminadas, adormeceste distante.

Mas quero eu achar-te, envolver-te nos meus lábios sedentos;

quero poder encontrar-te em suaves contornos dos meus dias.

Eu, que te vi morrendo nos meus sentimentos,

quero refazer-te em total mistério.

Eu, que te vi te perderes no mais abrupto momento,

quero de novo sentir-te, quero ver-te vibrando no meu pensar,

surgindo como dama do meu ser incontido,

sofrido e pungente, eternamente emotivo.

Quero encontrar-te infinitamente, sensível, totalmente aprazível,

fonte inesgotável do saber.

Elejo tua forma; hás de seres minha companhia.

Quero expandir, em mim, o que havia perdido,

vislumbrar quanto estavas presente no meu viver.

E neste mundo de absurdos,

sujo em letras maquiadas de falso amor e tenra paixão,

ficarás como expressão selada, fonte lacrada...

Não serás prostituída por palavras que fazem guerra,

porque tu és imaculada.

Poesia, que supostamente estavas morta, inacessível a mim,

chegaste, companheira, amiga de tantos desalentos,

parceira de grandes momentos,

escrevendo em lágrimas os meus melhores sentimentos.

Viveste minhas perdas e vibraste com meu pensamento.

E assim, desnuda, vejo-te diante de mim, tão amante e fiel.

Não foste embora; estavas aqui, tão presente.

Fizeste tua cama em minha alma e adormeceste docemente.