DEVOLVE...
Devolve...
Não palavras vazias,
não retratos ou cartas,
que eu nem te escrevi.
Devolve...
Os meus sonhos de outrora,
toda aquela alegria,
que roubaste de mim...
Devolve...
Meus abraços deixados,
como marcas eternas,
nos braços teus...
Devolve...
Os meus beijos roubados,
eu não quero deixá-los
nos lábios teus.
Devolve...
Os meus cantos, poemas,
que com amor escrevi.
Devolve...
Os meus dias felizes,
em que estava contente,
amando a ti...
Devolve...
Toda a minha esperança
e leva a tristeza,
que deixaste prá mim...
Devolve...
Nossas juras de amor,
nossos devaneios,
divagações...
Devolve...
O que tu me levaste,
me matando de angústia
e solidão...
Devolve...
Também o que eu te dei
e o que tu me legaste,
eu te devolverei...
Assim, leva, meu bem,
a minha solidão,
o meu desespero,
a minha aflição...
E leva,
pela tua vida afora,
a lembrança tristonha,
todo o medo e saudade,
que sobrou deste amor.
Leva o resto de vida,
que sobrou dos destroços
do meu coração...
Mas isto só te entregarei,
quando me devolveres a paz...
Eu quero doravante sentir
que, ainda, posso sorrir
e que posso sonhar...
Eu quero nunca mais me lembrar
que um dia eu te dei
um infinito amor...
E se, acaso, lembranças
algum dia restarem,
serão cinzas, só cinzas,
não me podem queimar...
Devolve...
E mo faças depressa
isto que te ordenei..
Depressa,
porque eu tenho pressa
em voltar a viver,
a viver para amar.
(30/04/1970)