A moça dos sonhos

A moça na janela com uma flor no cabelo, moça na janela com olhar leucêmico, paisagem crua em pleno dia de sol.

Aviões de papel voando perto dos passarinhos.

No bolso a esquerdar jaziam os comprimidos que ela nunca se lembrava de tomar, na ires como um risco de carvão, outro sol, sol órfão em sacrifícios geométricos.

A língua doce e dissonante, pálida como os lençóis que aprenderam a gemer o teu nome, como as mãos que não seguram coisa alguma, como os pés que enraizarem prenhes de caminhos.

Eu vou olhar a moça, vou observar a ferrugem que cresce em sua janela, seus dedos frágeis tangendo pra longe a amargura do sol, o mesmo sol de lanternas fazendo brilhar as ligas metálicas, o lusco-fusco dos degraus.

A moça na janela tem estrela no lugar de brincos.

A moça na janela é a moça dos sonhos, a moça dos sonhos de alguém.

Janaina Cruz
Enviado por Janaina Cruz em 23/04/2013
Código do texto: T4255551
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