Mata Atlântica

Queria ter você

E perguntar se você queria

Se havia um meio

De chegar até a razão

Algo meio enlouquecedor

Andando no trem

Saltando em casa

Casa amarga e velha

Novos sabores

Novos odores

Que impregnavam o ar

Da boca celestial

Da figura bestial

Mas tão bonita e gostosa

Que não se vê mais

A árvore frondosa

Galhos de alce

Alçando suas folhas sem flores

No abismo sem aprisco

Ovelhas sem lobo

Devoradas, comidas

Perseguidas

Totalmente destemidas

Quero você e a desejo

O prazer que a Mata Atlântica perdeu

O muriqui que o salto não deu

E se perdeu

É meu, é meu

Deusa grega és

Beija meus pés

E beijarei os teus

Com a faca da nossa amargura

Cortaremos o fio da esperança

Da morte negra, perambula

O meu “sex-car”

Automático, sem robô

Conselho do meu avô

Pare agora ou não mais

Disse não

Você disse não

Eu queria

Você queria

Mas não queria o que eu queria

Quisemos sexo

Tivemos sexo

Fizemos sexo

E fim.

CARLOS CRUZ - 1988