A tua boca

Hoje a minha boca procurou a tua, ávida,

nos beijos telúricos, ternos e inacabados,

dum estado devoluto de tempos por viver...

E a encontrou em cada coisa, em cada lugar,

eternamente quente, delineada e adjacente...

No rasto da água e dos atalhos

No rastilho de um cometa a reluzir

Na vaga brava da onda a desfazer

No acasalar das urtigas com as formigas

Das cigarras com as maçarocas dos milhos

Dos esquilos com os restolhos das searas

Que a tua boca, vem de lá de eras longínquas

e faminta, desce translúcida, diáfana, alongada,

sobre o meu corpo, no calar da noite ao soprar

de todas as madrugadas.

Sonho ou realidade (que importa na verdade?)

acordo em permanência envolta nos beijos da tua boca,

nesta alquimia magnificente de duas crateras coladas,

escorrentes em lavas e em fluidos sem palavras ...

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 29/03/2007
Reeditado em 03/04/2007
Código do texto: T430257
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