Oração a Eros

“O cristianismo deu veneno de beber a Eros; mas este não morreu, degenerou-se em vício." (Nietzsche)

“Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (João: I/4,16)

Ouvi minha oração num mundo

Que ouve somente vingança, ódio, violência.

Se o Amor nos é fundamental

Para a vida: onde encontro sua existência?

Amor, palavra repleta de significados

Porém, de compreensão desencontrada

Amor à pátria, à profissão, aos amigos

Aos pais, ao próximo, à namorada.

Amor entre homem e mulher

Promessa de felicidade e calma

De tamanho campo semântico

É o único a unir corpo e alma

Amor entre homem e mulher

Não nasce da inteligência ou vontade

Vem da natureza e não fere

Porque é imposto em suavidade

Eros, Filia e Ágape

Na Antiguidade, sua denominação

Cada qual com seu espectro

Mas de integrada significação

Filia é o amor do amante

Que suave deseja em plenitude

É o amor do Filósofo à sabedoria

À verdade, ao bem e à virtude

Ágape é o amor do amante

Que do outro propõe a descoberta

É a expressão da experiência

De entrega da individualidade aberta

E Eros? Eros é um deus

Responsável pela criação!

Já o diziam Homero e Hesíodo

E Sócrates a Fedro, em Platão

Erram aqueles que o vêem

Somente na satisfação do apetite

Tal qual ao cordeiro ama o lobo

O amante ao amado dirige tal convite

Eros é uma divindade

E, logo, luz ao coração

É o elo para o humano

Com a eternidade da superação

Eros é o dom da inspiração

A ascensão e a loucura profética

Num doce arrebatar da alma

Mergulhando-a na real arte poética

Eros é a causa primeira

A animar toda existência

É o sublimar amplo da razão

No decorrer de nossa vivência

Não é a estática da posse

Eros é mudança e movimento

É a eternidade e a constância

No devir do aperfeiçoamento

Eros é a plenitude do amor

Não a devastadora e falsa divinização

Não jamais a odiosa instrumentalização

Mas a completa humanização

Entre o homem e a mulher

Quando Eros se faz presente

Há a eternidade do infinito

Integrada num só ente

Eu fui ao Eros apresentado

Pela canção da Musa delicada

Por um doce sorriso alvinitente

Pelo perfume da rosa desabrochada

Eu fui do Eros distanciado

Em uma noite angustiosa;

Nas estrelas sem brilho

A Lua jazia preguiçosa

Eros, a tão desejada divindade,

De veneno foi embriagado;

Por óbvio não morreu

Mas em vício acabou degenerado

Por que de mim

Foi o amor retirado?

É tão grave meu pecado?

Ouvi minha prece, oh, Eros

E não me deixeis abandonado

João Ibaixe Jr
Enviado por João Ibaixe Jr em 29/03/2007
Código do texto: T430327