Um Pianista faz amor

Lentamente ele abriu

A tampa do piano

Como se desnudassse

A mulher amada

Observou por um momento

Um fugaz segundo

As teclas brancas e negras

Admirando o frescor,

o brilho que elas emanavam

extasiado como se deslumbrasse

o corpo nu da amada.

Seus dedos começaram a roçar

cada tecla, ao príncipio

apenas uma carícia

seus dedos só desenhavam

corações e estrelas

na superfície das teclas...

com um suspiro

começou a dedilhar suave

um Noturno de Chopin

tocava com a alma

tocava com o coração

como se estivesse

fazendo amor

com aquele piano

Suava...

as gotas molhavam as teclas

fazendo seus dedos deslizarem

mais suaves, mais harmoniosos

o som de seu piano vazou

pela janela da sala

foi dar na rua

As pessoas que passavam

Paravam, quase hipnotizadas

Pela beleza da música...

Olhavam-se como cúmplices

Como voyeurs daquele ato de amor

Embevecidas quedaram-se

Para o grand finale

Ele, alheio à tudo

Concentrava-se na música

Os olhos cerrados

A respiração ofegante

A música chegando ao clímax

Na última nota, o suspiro

gutural como se atingisse o orgasmo

um grito de macho saciado

de alguém feliz com seu amor

As pessoas não aplaudiram

Sentiam-se intrusas

Voltaram a caminhar

rumo à algum lugar

Ele ainda em êxtase

Ficou olhando o instrumento

A amada tinha ido embora

Na sua frente, apenas teclas

de um piano silencioso.

Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 30/03/2007
Reeditado em 30/03/2007
Código do texto: T431162