Alma Sertaneja

Talvez eu queira incendiar as pupilas dos teu olhos

na poeira dos caminhos por andar. Queira ver

na tua íris de gelatina (esse olhar que me domina)

a cintilar, o interior bravio do meu sertão por desbravar.

E o vento corredio a dobrar o espectro do teu corpo.

E as nossas histórias cruzadas em faúlhas incendiárias,

diferentes e tão iguais, na resteva das searas imortais.

E o cheiro agridoce do pecado

a povoar a sanzala alaranjada, quando o teu corpo

aportar, balsa ou jangada, no meu corpo, cais ou porto.

Em danças de luar, felinas e tribais.

No cumprimento de antigos rituais.

E depois do amor acontecer, correr emancipada e nua

no terreiro de lama, na verdade quente da rua ...

Ser Lua ...

Sorver uma a uma, todas as inesgotáveis gotas

d’uma divina trovoada tropical, no ungir do sal...

Ser primitiva, berço. África em ti,

quando o Sol desenhar o teu corpo no lençol

anil das águas. E tu fores apenas animal,

no Abril dos meus braços. Apaixonado paiol,

nos rios, fontes e riachos.

Sim, quero-te ser, inteira. Alma Sertaneja,

na corrente espuma, lava e bruma, das áfricas cachoeiras.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 02/04/2007
Código do texto: T434683
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