Retrato do meu gostar
Não sou, de tudo, só vontade;
E sou, de tudo, algum desfecho.
Sendo um lamear de espinhal
A cravar-se dentre olhos fixos.
Sou mais ou menos o que acho,
E quão somente o que perdi;
Aquilo que transborda sem encher,
Ou que enche e não transborda.
Se me destranço já me enleio;
Se não falo, implícito respondi.
Não sei nem me render direito,
E tão pouco me atrai o perdão.
Do nosso beijo pressupus o gosto,
Mas quão longe passei de acertar.
Sou lembrança e sou saudade,
Sou lonjura dentre ânsia labial;
Talvez o quase, o antes e depois;
O que estremece e esmigalha,
O que quer, há muito, muito mais.