Quem és tu, poeta insana?

Quem és tu, poeta insana, que branca sendo

me lembras a origem africana?

Não sou ninguém, e nada sendo,

sou apenas a pitoresca capulana

que te embala, que te acalma, te enlaça, te abraça …

A que, cruzada na rima aberta, lenta e franca

de um silenciado poema

traça rotas de Vento e Sol e Alma!

A que, a um só tempo… é Terra e Mar é Lua e luar.

Por tanto te amar!

Serenada, serei quiça, pigmento de Sol Poente

no recorte esfíngico da alba flor do sal.

Escuta este grito …

Sou Africana convicta, sentida, anunciada,

inscrita na matriz e na raiz,

não desta, mas de muitas transactas vidas.

Em passos perpetuamente calcorreados

em profusão. Na transpiração salina dos pés

impressos na argila alaranjada dos nossos caminhos …

e na carne atravessada por milenares espinhos...

Não sou nada e nada sendo ... serei talvez

poeta ensandecida em busca

da parte de si perdida!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 06/04/2007
Código do texto: T439405
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