IMPORTA DIZER QUE TE AMO

José António Gonçalves

O dizer-te que te amo importa

para alguma coisa. Para que saibas.

E confirmar o desinteresse pela concorrência.

Não haverá mais versos para os olhares fugazes

das outras fadas do lago. Nem segredos atrás das árvores,

escondidos sob as ervas quebradas pelo chão

ou nos caules das flores frescas e orvalhadas

deixadas junto das sombras das portas.

É um compromisso bíblico. Algo como um sacrifício

apetecível, sangrado sobre a ara dos montes ventosos,

criado para que seja memorável, terno. Nada o dobra

ou vence. Tem a firmeza do tronco que um dia será trave,

a elegância da arquitectura com que se erguem à luz

da história as sensações dos grandes feitos. É um mar

avassalador das terras altas, um habitante de templos

sagrados, uma quadriga em corrida de escravos

empenhada na vitória, nos louros lustrosos do grito

do sobrevivente número um, subindo ao podium.

Amo-te e digo-o.

Para sempre ficou dito.

O resto não importa. Aqui,

no Olimpo ou em Kafarnaum.

Foi o que disse. É o que escrevi.

Para ti.

José António Gonçalves

(inédito.01.05.04)

JAG

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Enviado por JAG em 21/08/2005
Código do texto: T44194