Dois corpos em comunhão!

Plana-me um vento desajustado a varejar verdugo a Alma,

em correntes desenfreadas de versos corrosivos

em busca da raiz das palavras decalcadas dos sentidos.

Plana-me um vento desajustado a varejar verdugo a Alma,

em correntes desenfreadas de versos corrosivos

em busca da raiz das palavras decalcadas dos sentidos.

Escorrem-se em formas abstractas elevando-se em rodopios

nuvens mordidas p’las demoras dos instantes apreensivos.

Magnólias revividas, movidas p’las futuristas turbinas,

derivadas dos gélidos, pretéritos dias.

Num bailio apressado, vejo-me num quadro pintado,

de cenas peculiares …

São moçoilas da minha aldeia, vestidas e trigueiras

nos seus vestidos de chitas. Tudo explode, tudo se agita,

na força da natureza onde Magnólias moças se rebuscam

nos beijos de doces bocas, em demanda de doçuras infinitas.

Plana-me o desalento, no jardineiro almocreve que me

canta e me encanta, lá do fundo do terreiro.

Sinto-lhe plangente, hoje e sempre,

o sabor do sangue escorrente. Quente, quente …

E da terra humedecida se eleva odorífica, chama fecunda,

sémen da vida.

Plana-me este embaraço nas guilhotinas do espaço,

a impedir o abraço, a impedir dar um passo. Elevam-se

em permanência muralhas de ferro, d’ aço …

E no eirado divino, te busca a pairar o vento, te envolve

e me envolve, no seu insano lamento. Buscam-se as lãs

dos rebanhos, em placidez de algodão. Busca-se a fome

dos corpos, se faz da terra primordial, rubro lençol e colchão.

No Universo, em fusão, tudo rebenta, tudo se estala

e da fadiga se alimenta a própria terra sedenta,

e a água corredia, nos movimenta e embala!...

O vento, por nós se cala!

Dois corpos em comunhão!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 11/04/2007
Reeditado em 19/04/2007
Código do texto: T445459
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