Pretérito

Sem nenhuma mágoa, somos e criamos nossos desencontros.

É claro que os nossos sonhos verteram as hordas descompassadas das nossas emoções e criaram um estilo único e irreparável para a nossa história.

Mas a elegância me impede de comentar sobre os tempos idos.

O passado é um lócus decrépito. Só sabe nutrir os desvairados e os apaixonados, coisas que nunca fomos.

E olhando as diversas manifestações que você insiste em formalizar através de contratos, não me resta dúvida de que fomos apenas cantores uníssono.

Nossos tons se firmaram, se entrelaçando e criando uma melodia fina e descompassada, que guiou nossa intempestiva criatividade até a rambla que nos abriga atualmente.

Você é virtuosa e magnífica, eu sempre soube.

Não nos faltou corroborar com a impugnância dos prazeres.

Vivemos uma literalidade invejável, cuja a franqueza nunca foi vista.

Fomos milhares, milhões com o mundo.

Mas nunca fomos outros diante de nós mesmo.

E esse é o maior reflexo do nosso meio-tempo.

A aliteração nunca permeou nossas odes.

Os dias sempre foram translúcidos e fluidos, um após o outro.

A força da nossa presença repelia tanto nossas alegrias quanto a monotonia de qualquer domingo.

E eu não consigo nem contar quantos domingos desperdiçamos.

Não importa, sempre odiei os domingos.

A dureza da sua forma e mau trato dos seus quadris sinuosos são a única lembrança voraz que ainda me consome diante das fotos emboloradas.

Pronto, já me desfiz em pretéritos.

É isso, você sempre sabe. Nossa atemporalidade não permite espaço a minha hipocrisia.

Enfim, só espero que eu vá além das fronteiras do meu próprio espaço.

Pois meu tempo nunca foi meu.

O que me resta e não ser você pelo tempo que me pertence.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 01/09/2013
Código do texto: T4462083
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