Pretérito
Sem nenhuma mágoa, somos e criamos nossos desencontros.
É claro que os nossos sonhos verteram as hordas descompassadas das nossas emoções e criaram um estilo único e irreparável para a nossa história.
Mas a elegância me impede de comentar sobre os tempos idos.
O passado é um lócus decrépito. Só sabe nutrir os desvairados e os apaixonados, coisas que nunca fomos.
E olhando as diversas manifestações que você insiste em formalizar através de contratos, não me resta dúvida de que fomos apenas cantores uníssono.
Nossos tons se firmaram, se entrelaçando e criando uma melodia fina e descompassada, que guiou nossa intempestiva criatividade até a rambla que nos abriga atualmente.
Você é virtuosa e magnífica, eu sempre soube.
Não nos faltou corroborar com a impugnância dos prazeres.
Vivemos uma literalidade invejável, cuja a franqueza nunca foi vista.
Fomos milhares, milhões com o mundo.
Mas nunca fomos outros diante de nós mesmo.
E esse é o maior reflexo do nosso meio-tempo.
A aliteração nunca permeou nossas odes.
Os dias sempre foram translúcidos e fluidos, um após o outro.
A força da nossa presença repelia tanto nossas alegrias quanto a monotonia de qualquer domingo.
E eu não consigo nem contar quantos domingos desperdiçamos.
Não importa, sempre odiei os domingos.
A dureza da sua forma e mau trato dos seus quadris sinuosos são a única lembrança voraz que ainda me consome diante das fotos emboloradas.
Pronto, já me desfiz em pretéritos.
É isso, você sempre sabe. Nossa atemporalidade não permite espaço a minha hipocrisia.
Enfim, só espero que eu vá além das fronteiras do meu próprio espaço.
Pois meu tempo nunca foi meu.
O que me resta e não ser você pelo tempo que me pertence.