Pássaros de seda e luz

Do rio grande e doutras margens,

percorrem-se cachoeiras divinas de memória

e, num esvoaçar melodioso de sulcadas asas,

se acentuam recortados, pássaros de seda e luz.

Elevas-me na agitação de bridas quentes de cobiça,

do teu corpo no meu corpo acentuado

e logo decalcado, urgente de tão faminto.

No saber, no sabor e no instinto.

Projectas-te em ogivas brandas, serenadas,

das nossas bocas coladas, que se alongam em

estradas de volúpias rubras. Bagos ébrios de uvas.

Deslizas em intemporal balanço de gozo e de prazer!

Danças ... Danço!

Serão pássaros de seda

as tuas mãos sobre o verde esvoaçante

dos cílios dos meus olhos, neste mar em que te

adivinhas projectado, elevado, completado ...

E a tua boca será perpetuamente rio aberto

a escorrer nas margens partilhadas

de um tempo só nosso, ainda por viver.

Serão os nossos corpos eterno bailado

num palco secreto dos mais finos afectos.

Em ti encontrei a loucura do desejo

e o sacio desta fome de me dar e receber ...

A alma, o corpo, consagrados na

saliva trocada de um só beijo.

Eternizado!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 12/04/2007
Reeditado em 12/04/2007
Código do texto: T446672
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