Ela
Ela sabe, sabe decor
Que dela, eu amo tudo.
Do que me faz gritar
Ao que me deixa mudo.
Do que me faz sonhar
Ao que me deixa surdo.
Ela me cega e se nega.
Me conduz ao nada
E faz-me sentir sublime.
Me testa e me reprova
Me afasta e me aprova.
Ela se faz minha meta
Em mim, a última seta
Com apostas radicais.
Com seu "Oi" fugaz
Lê meu mundo travesso
Desde o nosso descomeço.
Vê que eu me dou sem receber
E cultivo esse amor sem colher.
Mas, com cuidado e esmero
Dizendo tudo o que quero.
Mesmo abstrata, ingrata
Com lágrimas em cascata
Eu a quero assim, semente.
E cerrado, estagnado espero.
Incessante, inconsequente
Nesse mundo meu, da gente.
E assim, feito planta seca
Que ao receber água fresca
A cada dia se mostra
Quase verde, quase morta
Ela timidamente se abre
Em cada amanhecer, cedo ou tarde.
Dia a dia, noite a noite, mês a mês
Com o Sol e a Lua a nos dizer:
— Creiam! Abençoamos vocês.
Paulinho Camargo
SP060620131847SXT