AMANHECI APAIXONADO
 
 
Nada como uma noite bem dormida e um amanhecer reluzente. Hoje despertei aos poucos, nenhum som, ruídos distantes, alguns pássaros cantavam, sobrevoou um helicóptero, aos poucos fui entendendo que era mais um dia que Deus me deu. Pelos vidros da sacada a claridade rompia a escuridão do meu quarto, meio que sem forças, levantei, fui em direção da luz dizer meu bom dia, abri a cortina e o dia estava lindo, o sol no horizonte, as ondas do mar açoitando a areia da praia, ao longe os navios aguardavam a hora do porto. Que imagem linda, pelo vidro contemplava tudo isso.
 
Dei meu bom dia a Deus, abri totalmente as cortinas e voltei para a cama. Ainda cansado, atordoado, com a despedida de quem se foi no dia anterior, restou apenas o seu perfume, agora eu estava só, podia continuar ali o dia inteiro, sem ser interrompido em meus sonhos acordado, mas se quisesse poderia começar o dia de forma diferente, descer até a praia, caminhar na areia, sem rumo, sem direção, sem hora para voltar, já que sou dono da minha vida e livre para viver como bem entender.
 
Pensei, pensei e concordei comigo mesmo que o melhor seria descer, tomar café e caminhar na praia, iria até onde minhas forças me levasse, por precaução um pouquinho de dinheiro para tomar um taxi de volta. Então executei o combinado, de camisa branca, calção preto, sandália simples, apenas com o cartão da porta, e seja o que Deus quiser. Tomei café e em trinta minutos já estava caminhando, sem celular, sem identidade, era apenas mais um na areia. O sol brilhante, passava das oito horas, mas o calor intenso me fez desejar ter levado uma água, mas a sede não seria empecilho, bastava olhar para o mar e me sentia saciado.
 
Decidi ir pisando na água e areia, de encontro ao sol, vento forte, comecei a sonhar, sonhei com muita coisa boa, alegre, feliz, pensava nos meus filhos, nos parentes, me questionei por pouco falar com eles, e continuei a navegar nas imaginações. Rapidamente me veio um pensamento: meu Deus, como vim parar aqui neste lugar? Se na virada do ano dissessem que eu viria aqui eu não acreditaria, pois jamais me imaginei por essas paragens, mas era verdade eu ali estava, caminhando e sonhando. Alegre, pensei nos amigos que fiz naquele lugar, boa gente, hospitaleiros, amigos verdadeiros, nordestinos, a origem já diz tudo.
 
Continuando a sonhar, imaginei que pudesse por ali viver, não apenas trabalhar ou passear, mas mudar de vez, quem sabe, numa noite pela lagoa encontre uma companheira que comigo possa dividir um teto, uma cozinha, uma cama, uma sala, um lar. Seria ótimo, não tenho tempo para aventuras, mas quando penso que tudo vai bem, logo descubro que tudo foi mal, e já estou sozinho novamente. Quem sabe por ali eu descubra alguém escondida, talvez magoada com as dores da vida, mas ainda com vontade de viver o que dela resta, ah, seria a glória. Mas como farei para descobrir onde ela está? Onde eu devo procurar uma mulher para com ela dividir o que tenho para oferecer?
 
Agora o sol forte me faz parar, mais uma vez contemplo o mar maravilhoso, hora de voltar, talvez não suportasse ir mais longe, na dúvida melhor voltar, pela posição do sol já estava por ali mais do que devia. Então me rendi, caminharia até o limite do meu corpo, pensaria na cama maravilhosa que me esperava, na vista da sacada indescritível, certamente aquelas imagens em minha cabeça me dariam forças, até para dizer aos que encontrasse pelo caminho que estou apaixonado, sim, por quem? Por aquela mulher que um dia vai chegar.