Isentos os nossos corpos se deram

Isentei-me para dentro de um tempo que é só nosso

e lá encontrei, meu amor, aconchegado,

o meu delicado peito, no colo sinuoso do teu regaço.

Num longo balancear de vagas de largo mar ...

Isentas foram de nós as palavras,

que subiram elevadas em pernas arvoradas de cometas...

Enfeitaram o azul do céu, em farrapos esfuziantes

de doce algodão. Desceram de novo ao chão, sobre os

nossos cabelos ... na cor argentina, na cintilação d’adrenalina ...

Esvoaçavam sobre as praias em que apeaste as minhas saias.

Isentos os nossos corpos se deram então,

na busca dos caminhos naturais,

tais águas que sempre encontram, os seus, primordiais.

E do templo sagrado do meu corpo, nesse sacro momento,

todo o anterior receio se ausentou.

Os meus seios eram agora colunas gregas, altaneiras,

encimadas por claridades luminescentes, fosforescentes ...

De bailados d’ unicórnios alados e suas crinas.

E nas minhas pupilas meninas, do verde dos meus olhos,

igualmente, os terrores se fizeram ausentes.

Isentaram-se os rumores mais agrestes dos passados

quando os meus e os teus passos se vislumbraram

colados. E nos teus flancos desejados eu antevi anseio

crescente. Do meu corpo, aprisionado no sonho comum da gente.

Isentaram-se findos, os cantares sinistros dos mochos

nas tardes finais e de novo a Primavera se esboçou-se claridade

reflorescida na greda alaranjada dos beirais ...

Isentaram-se de nós quaisquer segredos ...

no momento adocicado em que em exaltação festiva

renasci mulher, adormecida a teu lado!

Isentaram-se de igual modo, a timidez e o embaraço,

no acasalar corpo e alma e, numa quietude serena,

rejuvenescer de forma ora exaltada ora amena,

por dentro do fulgor da mais tórrida paixão.

Num tempo apressado

em que apenas a essência da vida nos faz correr...

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 17/04/2007
Reeditado em 17/04/2007
Código do texto: T452941
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