TE AMO SEM ENTENDER

A alva se dissipou e as nuvens se vestem

De um cinzento manto de tristeza.

Restos mortais jazem em teus olhos.

Luzem as sombras das noites febris do inverno.

As noites se escondem, e o hirto alvedrio das estrelas

Passa como lúgubre sentimento de razões em minha mente.

Preciso dizer-lhe algo

Mas não sei o que vem a ser

Pois o ser que nada é e nem sei

Se souber o que sei sem saber

Tais segredos a muito escondidos

Que tão graves sei sê-los assim

Sem compreender que não posso dizê-los

Pois tais são que não sei dizê-los a mim

Fantasmas correm pelas calçadas

Espectros entoam canções, arrastam-me para desertos

E o som de sílabas apaixonadas

Propaga-se etéreo nas províncias da cidade

Como viverei sem teu amor, ó mais querida e mais amada?

Como serei novamente o mesmo depois de te conhecer?

Todas as estradas árduas já passei, todo caminho de espinhos, todos os abismos...

Tudo, tudo o que me era difícil, vestia-se da ternura

Dos teus sorrisos, cobria-me com véus misteriosos a alma

Em lugares em que se exalava o perfume do teu amor

Que seria do ser se não houvesse propósitos e todos os queixumes não tivessem quaisquer pretexto ou razão?

Sofreriam o vazio e a ausência perdida, sem perceber que logo mais teriam mil motivos para se arrepender.

Eu, que ando por entre trevas, que lanço de mim esta chama.

Eu, que me entrego ao teu encanto, que vivo como criança, sorrindo mesmo na dor, somente pela esperança, que seria de mim?

Seria como a Terra almejando a chuva, girassóis brandindo à Noite e clamando pelo Dia, seria eu o aguardo do teu rosto à janela e a tristeza procurando porquês.

Que candura há em teus sorrisos, que beleza em teu andar!

Sonho com tua morte e busco a proporção do meu desespero...

Meu pranto se eterniza

Como ao de uma estrela que se apaga no Céu

Tua face afável contemplo confuso,

Teus olhos cerrados trazem lágrimas aos meus.

Chamejam as sombras das noites febris do inverno.

Então beijo tua face e abraço-me ao que resta de ti.

E de repente tu estás de pé e eu em teu leito jazendo cansado.

Sinto, pois, teu corpo cálido,

E a frialdade foge de mim.

Tu abres os olhos,

Onde cinéreos jazem meus restos mortais

E sobre toda a tortura e lamento recaem teu amor

E em meu caminho sinuoso espalham-se flores do entardecer.

Eu te amo, como amo a simplicidade dos teus gestos...

Volto-me, e sorrindo escrevo no Céu teu nome de luz

As visões de morte se apagam

E desperto dos meus sonhos e me aflijo

Por causa destes momentos em meu ser

Sempre te amarei, ó mais amada,

A mais querida do meu coração

Então me acosto a um cantinho

E observo-me num fluxo inexorável

Rostos e lembranças que já não existiam

E já não sendo voltaram a ser

E mesmo sendo o tempo todo e existindo

No mais profundo âmago hão de perder

Outros que assim estão e não quero esquecê-los

Mas se perdem como almas, sem perceber

E reflito sobre o pensar e me sinto vários

Sendo um, ou sendo tantos enfim

Na ponderação desta loucura de segredos

Intransponíveis na barreira neurótica do tempo

Sabendo que o que tenho de saber

São segredos a muito escondidos

São fragmentos do que tenho a dizer

São resquícios do quanto amo,

Porquanto amo tanto,

Sem mesmo entender...

jairomellis
Enviado por jairomellis em 17/04/2007
Código do texto: T453770
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