Das Fases
Lua nova pousou em minha vida,
Invadiu minha existência,
Fez da penumbra da noite o lar do meu coração ferido.
Romance exilou,
Baladas forma proibida.
Estava morando num reino enlutado.
Semicerrados meus olhos permaneciam,
Cansados demais para recordarem da luz.
Perante o espelho,
Na mágoa do irreconhecimento,
Senti a aquiescência desconcertante de quem nem mais luta contra o marasmo;
Dele é amiga,
Companheira contrariada.
Contradição viu-se ainda mais confusa,
Quando na noite
Um risco em riso surgiu.
O reflexo obscurecido abraçou a claridade que tocou o rosto.
Na lua minguante
Percebi que não era eu quem pensei que fosse.
A iluminação do sorriso avisou-me que
Eu não mais pertencia aquele lugar.
Força estranha esta,
Motriz para além do que imaginei.
Tudo aquilo que conhecia
Matiz cinza,
Transfigura-se;
Matizes coloridas
Ainda pálidas.
Clarividência: Seria isto que roçava minha face?
Crescia em mim aquela vontade tamanha,
De rever de quais tons sou feita.
Arrisquei-me.
Fitei para o mundo que a lua crescente beijava no espelho.
Apaixonei-me
Pelas marcas de uma vida nada comum,
Nada extraordinária.
Pela primeira vez encarei a beleza construída.
Estava pronta para mudar,
Mutei.
Segui o rastro enluarado.
Num arrufo inesperado,
De quem se nota encantada por demais.
Enfrentei nas mazelas de uma lua cheia.
Aquele sentir que um dia condenara-me.
Resolvi abrir minha voz para a vida.
Fiz de seu olhar meu novo espelho,
Refletida ali
Estavam minhas nuances.
Baixei a guarda da minha alma.
Em mim quis ser seu espelho,
Pura e pronta,
Entregue sem máscaras,
Na mais alta luz,
No mais inexorável tempo,
Amando sem temor,
Amada através das fases;
Preparada para o amanhecer em nós.