Filha

Não a fiz. Fizeram-na os anjos.

Não a embalei. Tampouco lhe afastei

Os monstros do armário, as sombras da noite

e o terror da bruxa do açoite.

Não lhe acompanhei à primeira aula,

ao primeiro jardim e ao teatro sem fim.

Não sonhamos juntos o brilho da estrela

que se avista na infância primeiro.

Caminhos e destinos repartidos, levaram-nos.

Mas eis que então, ei-la soberana no reino da Poesia,

exercendo o fascínio de sentir. Ei-la, luz a luzir.

Não, não a fiz.

Fizeram-na os anjos.

Fizeram-na Cecília.

Fizeram-na porto e ilha.

Fizeram-na, minha filha.

Para Cecília, filha amada.