O verbo e a carne

Ah, como é bom o dançar das letras;

Permitir que, como crianças levadas,

As harmonias, primas-irmãs

Das músicas e dos sonhos,

Brinquem de roda e amarelinha

No quintal do meu quarto;

Fazer amor e canções até bem tarde,

Sentir a noite sonolenta

Acariciar meus olhos abertos,

Ganhar jazz e fazer blues.

Em horas mortas de cansado,

Deixar o mundo dormir

Em sua própria intimidade,

Sem sombras no pensamento,

Visitar o silêncio das altas horas

Enquanto os automóveis, calados,

Escondem-se em suas cavernas

De ouro, prata e marfim.

Depois de toda odisseia noturna,

Se espreguiçar como um carinho;

Olhar para o lado e ver que,

Além da pessoa amada, só existe o verbo,

A tão solitária, cantada, conjugada

E pouco sentida, palavra AMOR.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 17/03/2014
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