OLHOS NUS

Quando despido de razão, e sobre os

ombros pesava-me as vestimentas da

solidão, o coração parecia-me um órgão

atroz, ou talvez, quem sabe, um

sentimento puramente ingrato.

Vejo agora como dói a desconfiança de

uma vida inútil, inglória, injusta consigo

mesma. Resumindo, uma existência dormida.

Hoje, com a real presença do teu lépido amor,

certeza tenho que sonho, e o meu torpor

já não me consome mais, pelo contrário,

alegra-me, pois a minha falta de estímulos

não é mais tristeza, muito menos fraqueza moral.

Digo-te com verdade, é prazer desmesurável

jamais auferido até pelos mais ardentes enamorados;

é tentar secar-se e, sem conseguir, embeber-se na fonte

onde encontra-se mergulhada a minha terna alma.

Toque-me. E sinta como bem fechados estão os meus olhos.

Olhá-la, para isso já não servem mais, pois sentimento

tão irreal como este que me possui, não pode ser

palpado, nem vivido: tão somente sentido.

Elton Diniz Pacheco
Enviado por Elton Diniz Pacheco em 04/05/2007
Reeditado em 20/07/2007
Código do texto: T474465