Dos desencontros casuais

Tommy um dia teve um sonho

Na porta do bar havia uma moça de franja

Debaixo do toldo para fugir da chuva

Logo que ela viu o maço, veio pedir um cigarro

Tommy calado sacou do bolso a carteira de Marlboro

E numa tentativa lançou os olhos nela

Assim sem sucesso, se virou para chuva e voltou a matutar

Por segundos, as duas cabeças fumantes e pensantes

Lançaram a boia ao mar, na tentativa de desafogar toda aquela gente do dilúvio

Mas primeiro salvariam um ao outro

Rindo das bobagens em comum e das semelhanças estranhas

Por um momento, Tommy lembrou da infância

Sobre uma memória antiga, dessas que de repente se passam na nossa cabeça

Algo como um belo sorriso que deu a moça, desses que ficam na memória, e que se passam de repente na nossa cabeça

E que por algum motivo teria virado sonho

E talvez, sem motivo, teria virado poesia

Durante alguns minutos enquanto a chuva caia

O passado veio à tona

E juntou aquelas duas almas solitárias

Debaixo de um toldo de um bar qualquer

Durante alguns minutos enquanto a chuva caia

Aqueles dois corações estavam salvos do dilúvio

E assim, como queriam, poderiam salvar os outros também

Mesmo que só por alguns minutos, num desses desencontros casuais