Uma história verídica

Lua minha amiga de outrora

Nas noites do meu sertão

Sombras lindas e formosas

Com seus bordados no chão

Lembra o amor adolescente

Tão intenso, mas proibido

Sonho mágico inocente

Que quase acabou comigo

Eu menina moça e arteira

Saía sob a luz do luar

Passava entre as mangueiras

E escondida ia namorar

Ah! meu Deus jamais esqueci

Daquelas noites enluaradas

Dos perigos que eu corri

Mas àquele amor compensava

Preto, era o seu apelido

E Kainha sempre foi o meu

O nosso amor era proibido

E no tempo ele adormeceu

Jamais esqueci, às serenatas

No Alívio, meu sertão brejeiro

As musicas que o preto rodava

Eram do cantor José Ribeiro

Do meu quarto eu ouvia com medo

O coração batia acelerado

E esse amor sofrido em segredo

Me deixava ansiosa e desesperada

Pulava cercas e até a ele eu corria

Enfrentando o medo pelo meu amor

Quando o encontrava em seus braços caía

E ele me consumia com seu beijo sedutor

Era como, se eu fosse desfalecer

Quando num abraço, ele me envolvia

Perturbava-se, todo o meu ser

E todo o meu corpo, em febre se ardia

E o meu amado inventou de viajar

Para ganhar um bom dinheiro

Para então podermos casar

E selar nosso amor verdadeiro

Após um ano, contando os dias

Esperando pelo meu amor

Quando o avistei, chorei de alegria

Mas ele com ironia, me ignorou

Contaram-lhe que eu, o traí

Sem que eu nem soubesse com quem

Naquele dia, eu toda, morri

Meu castelo caiu não vi mais ninguém

Eu fui fiel até o último dia

Então, só me restava morrer

Tentei o suicídio, mãezinha em agonia

Gritando minha filha você tem que viver

Foram momentos de muita dor

Para minha mãe e para mim

Nos abraçávamos, ela em clamor

E eu achando que era o meu fim

Meu pai me mandou para longe dali

Mas eu queria provar minha inocência

Até que após uns anos, ele veio à mim

Pedindo perdão e até clemência

Disse: Ele confessou, àquele que mentiu

Arrependido ele disse: Ela nunca lhe traiu

Falou que lhe amava, que por ti sofria

E àquela era a chance que ele tinha.

De ter você para ele um dia.

Me perdoe, você ainda quer ser minha?

Eu o perdoei em lágrimas

Mas, o choro era consolador

E acalentava minha alma

Foi provada a inocência do meu amor

E novamente tetamos

Mas tudo havia acabado

Somente à lembrança daqueles anos

Havia em mim perdurado

O amor acabara realmente,

Fiquei tentando fazer uma emenda

Do passado com o presente

Mas Preto e Kainha viraram lenda

As musicas que marcaram minha adolescência as que ele mais colocava pra mim ouvir eram: Não venda seus beijos, Beleza da rosa, Juntinhos assim, oração de amor e mais algumas tudo de José Ribeiro. Até a noite que meu pai saiu fora e deu tiros em cima do som. Dia seguinte eu vi apenas os seus pedaços pelo chão do terreiro em frente nossa casa. O preto havia corrido para evitar uma tragédia maior. Foi o que sempre lhe pedi, que não matasse meu pai. Ele preto, também só andava armado. No interior era assim. Misericórdia, ainda bem que tudo acabou sem mortes, pelo menos física.

Kainha Brito

Kainha Brito
Enviado por Kainha Brito em 17/04/2014
Reeditado em 08/02/2019
Código do texto: T4772381
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