"Rio do amor"

Rio do amor

Amor, rio forte, caudaloso

Jorro infinito, impetuoso

Arrasta a vida toda de roldão

Levando carinhos em sua emoção

Lavando mágoas do nosso coração...

Correnteza rica de anseios

Choros sentidos em confusão

Correntes nutridas no seu arrastão

Fuzarca, delírio, total escravidão

Embolam tudo, no correr, no chão...

Afluentes geridos, córregos sentidos

Que soluçam imagens em suas passagens

Roucos frêmitos criam suas coragens

Deixam marcas profundas em seu arrastar

Presos, unidos e em constante suspirar...

Águas turvas, manchadas, diluidas

Águas claras, límpidas vertidas

Em espumas mistas, frementes, coloridas

Pincelando em tons de um rico esplendor

Matizando esferas do mais puro amor...

Estas espumas, sem querer, refletem

Carícias trocadas e abençoadas

Vêm ladeando, vêm beijando

Plantas e pedras em seu arrastar

Limando arestas, levando folhas ao passar...

Rio, em rítmos que se derrapam

Pulando pedras em seu leito aflito

Mitigando dores, liberando amores

Oferecendo riquezas como as das flores

Sobrevivendo anseios, espargindo cores...

Mas, em sua passagem marca

Feridas que intempéries se aproximam

Rústicas, ladinas, agressivas, ferinas

Fazem-no gemer de intensa dor

Desaba e cai, em cascatas, seu dissabor...

Corre ligeiro, amante, passageiro

Para desembocar em rico estuário

Delta mágico como anfitrião

Que o recebe, sorrindo, tonto de emoção

As águas convidadas, eterno beija-mão...

Nessa intromissão que desatina

Quando feroz, ruge, a rude explosão

Joga-se ao mar para, em furor, se apresentar

Na pororoca, misturando-se ao mar bravio

Em lama, doce, sal, num fantástico chegar...

Myriam Peres

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 05/09/2005
Código do texto: T47770