Poema rítmico de um amor que perdeu seu compasso

Desbotaram-se os sóis vivos por não terem mais motivos.

Suicidou-se meu sorriso porque dele eu não preciso.

As palavras rabiscadas foram todos apagadas:

Verso sem sua presença só me é indiferença.

E esse é o mais triste fato de eu viver o imediato

E ao passar-se um segundo, falecer meu eu profundo.

A fumaça das cidades ultrapassa eternidades

E eu me encontro em nevoeiro que me toma o tempo inteiro.

Devo planejar futuro pra ele ser cheio de furos

Se por eles tu me escapas sem deixar-me nem um mapa?

Devo abraçar a vida pra perder-te na avenida,

E cantar com coração se tu não gostas da canção?

Esqueci a fome e a sede de desmoronar paredes.

De ser livre de verdade, enforcou-se a vontade.

E entregar-me novamente não parece inteligente,

Pois perdeu o seu compasso meu amor de estilhaços.

Já que desses versos vários, sempre és tu o destinatário.

E do meu amor de outono, só você tornou-se o dono.

Mas você não abre a porta, meu poema não suporta,

Ele vaga, sai sem rumo, é agora só resumo

De um leão que, sem rugido, sabe que já tá vencido.

Ou de um som que, sem ouvido, não encontra mais sentido.

De um borrão recém-nascido no arco-íris colorido,

Coração desconhecido, amor não correspondido.

Pois eu troco meu cansaço pra poder ter seu abraço

E pra minha trajetória dar espaço à nossa história...

Mas eu sei que um par de rimas de ti não me aproximam.

Logo as largo no espaço pra que tornem mil pedaços.