Delírio...
Havia um lugar vago
ao teu lado no retrato...
Eu te olhei embevecido
com o corpo estremecido
meio dormente, estupefato,
e despido até de meia razão
ouvindo a voz do coração
intentei fazer-te um afago...
Retornou-me o frio da tela
na seca frialdade da moldura...
E na aspereza da entretela
uma pincelada de textura
com doce aroma de passado...
Sem licença e sem protocolo
só mesmo absorto e admirado
já não me senti firme no solo...
Eu me despi da minha vida,
saindo enfim do anonimato
e da feroz solidão do inferno
trocando a velha roupa puída
por uma veste mais decente.
Agora serei o teu par eterno
e os dois seremos finalmente
duas almas do mesmo retrato...
Franca, 2.014, Maio, 07.
José Carlos Rodrigues