Sons Noturnos...
Ave noctívaga,
fecho os olhos assustado
ao ouvir teu canto triste.
Porque se a cor ainda existe
toda plumagem é escura e negra
quando se camufla na bruma da noite
que de tão longa nunca tem fim.
Não existe mais o sinal das cores
só sorte e morte de mil amores
que mesmo o luar brilha opressivo.
Minha voz quando sai de mim;
gorjeio lúgubre de tom depressivo
que morre infeliz com o amor
que nunca soube e ousou sentir,
é monótona e monocórdia
como se trouxesse a discórdia
para o ambiente atemporal.
E se silencia, ausente de som
só lembra o negro e sufocante tom
de amor prostituído, pobre, venal.
Simples acordes sem poesia,
porque tudo então virou paródia
para eclipsar a breve rapsódia
de que o poeta inda era capaz.
E sob o manto noturno e triste
se é que a poesia ainda existe
é só o canto de ave noturna
quando feliz, quando soturna
porque talvez o som de gente
já seja agora indiferente
a essa angústia tão tenaz...
Franca, 2014, Maio, 04