I
Quero uma mulher de nudez escarlate
de cuja fronte brotem ventanias
de orquídeas e borboletas insanas
Uma bacante quieta como um rio de marmotas
envolvendo-me com mil braços e pernas
e eu, arquiteto de linhas obscuras
possa beber das palavras vertidas do seu ventre
Quero uma mulher enraizada em sonhos
de pele cálida e
colibris no olhar
deixando no ar um perfume de estrelas
e nesta incerteza crepuscular
ilumine estes sóis noturnos
lacerando a pele de uma breve roseira
onde o sangue queime em todos os espinhos...
que num arroubo úmido
atravesse minhas pupilas com os seios incandescentes
Quero uma mulher de suor acre,
de imperfeitas e ocasionais torrentes
um arquipélago de essências,
odores de encantamento;
ardente em meio as geleiras
deitando luz na cidade deserta
das ilusões,
cujo magma resoluto entrelace
meu corpo nu e minhas vísceras latentes
provando sem pudores
do meu verso e do meu sexo
E lânguida e calma
(silêncio em um mar de ocasos)
baile como uma brisa
de violetas
com suas coxas em meus flancos
e a vulva engolindo o meu ser...
Quero uma mulher que cante quietamente
esta estranha dor noturna
e na claridade de um trigal
de vozes róseas
serenamente respire devagar
(bebendo um rubro vinho)
toque minha pele ainda em brasa;
gazela extenuada
deite-se plácida e quieta
no meu tronco
entre meus braços-galhos cansados
DARWIN FERRARETTO 16/08/05