Canção Vazia (Estória em Preto e Branco)

Minha alma viaja vazia,

Por caminhos incertos,

E trilhas desconhecidas.

São manchas em preto e branco,

Que desembocam no azul da vida.

No altar da sacada,

Um bailar de anjos em despedida.

Um a um,

Mergulham nas águas,

Do balé das ondas:

Às calçadas vazias.

E no cemitério das emoções,

De sentenças opacas e sem vida,

Pérolas negras colorem o chão,

De um marfim funéreo: a despedida.

Tinta e pincel redesenham um carrossel de cores,

No brilho opaco do azulejo da cozinha.

Tons de azul, cinza e anil,

Transcrevem a felicidade sangrenta,

Que enegrece o bordô da vida.

Aqui dentro: a velha casca,

Que permanece da sacada,

Ansiando na calçada,

As águas do rio.

Tatuada na face,

Uma catedral sísmica,

Que conserva cativa,

A máscara do dia.

São sons remanescentes,

De fonemas incertos,

Frases sem verbo,

E canções sem riso.

Desenhada no pulso,

A rosa dos ventos,

Caminhos sem volta,

O sentido da vida.

E carrossel de cores gastas,

Agora corrompe a paisagem vazia.

De um sol que devora no horizonte,

A imensidão do dia.

E o anjo sem asas da foto,

Com seus olhos cerrados na neblina,

Mergulha profundo de encontro às ondas,

No abraço concreto e sem reticências,

Encontra um ponto final para seus dias.