PELEIA POR AMOR

Não sei como aconteceu

pois sou um gaúcho mui forte,

cai pro minuano do Norte

sem ao menos eu notar.

Eu vi uma china, que china!

Olhando-a de relancina

quis, mas não pude falar.

Tinha o coração bem guapo

como todo índio gaudério,

porém, conheci o mistério

muito xucro da paixão.

Mas quando eu me bandeei

aconteceu o que não pensei

meio assim de supetão.

A chinoca me queria

mas tinha um causo manhoso,

seu pai era um guasca baldoso,

e ao lhe falar em namoro dizia:

surrarei um por um,

com três dias de jejum

largarei lanhado o couro.

Ao ouvir o que Ela me disse

senti meu sangue ferver

e disse: chame pra eu ver

este índio que é tão valente,

pois homem só respeito,

quando me trata com jeito

ou de modo indiferente.

Quando o guasca apareceu

eu disse comigo mesmo:

vou te largar assim a esmo

só pra ver o que tu faz.

Não conheces o mistério,

que possui um índio gaudério

que lutou com satanás.

O coera muito experiente

o que eu pensei adivinhou,

disse: uma sova eu te dou

vais conhecer o tirão

porque mestiço da tua era,

eu largo como tapera

em noites de assombração...

Pois te digo meu Senhor

que é muito fácil falar,

mas quero ver realizar

o que você prometeu;

Pode mandar o facão,

porém, aguenta o tirão

porque, quem vai bater sou eu.

A luta iniciou na sala

e passamos pro terreiro,

quando meio em desespero

foi que eu vi a coisa preta.

Pois o velho despreceito,

batia facão, peito a peito

sem fazer qualquer careta.

E foi neste meio tempo

que senti uma coisa fria,

que espinha abaixo descia

porém, eu não me entreguei,

gritei: arreda seu lacaio,

mandei o facão de soslaio

quase que o velho eu varei.

A velha, os filhos e a filha

quiseram nos apartar,

o velho gritou pra deixar

que a luta chegasse ao fim,

Quero lhe dar a lição,

pois no mango e no facão,

ninguém faz pagode a mim.

Eta velho tão garganta!

Pois estava lhe poupando,

batia chouto brincando

porque não tinha adversário.

As brigas que tenho feito,

batendo “Asa Branca” a jeito

já venci muito parceiro...

E foi aí, quando, se não quando

que o velhinho me falou:

mestiço, vance aguentou

o que por castigo fiz,

tens o meu consentimento

dou-te a filha em casamento

pra seres homem feliz.

Após anos já passados

quero mostrar meu ranchito,

pra verem cada piazito

loiro, moreno e queimado.

Dentro deste meu pessuelo,

tem cria de todo pelo

mas, todos são abençoados.

Agora então vou falar

pra todo gaudério ouvir,

peço esse dito seguir

o casamento é soberano.

Já fui cheio de mistério,

hoje já não sou gaudério

sou feliz, sem desengano.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 05/08/2014
Reeditado em 06/08/2014
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