NAVALHADA NA MORENA
Que a navalha valha a pena
ao cortar a pele morena
daquela que me traiu!
Que a navalha valha o sangue
daquela pequena
que me engrupiu!
Pois sofri por me dar inteiro
e, desde o mês de fevereiro,
pago dívidas sem fim.
Levei-a ao carnaval,
ao baile de gala, ao festim,
queimei em luxo meu dinheiro.
E o que foi que ela me deu?
Um mar de queixumes e gritos
e nem sequer reconheceu
o quanto eu estava bonito.
Dançou com o Sandoval,
com o Alex e o Ribamar.
Até com a lésbica Paula,
a doida calhou de dançar!
Quanto a mim, um imbecil,
só fazia abrir a algibeira
pra pagar a conta elevada
que ela fazia comprando besteira.
E na primeira oportunidade,
soube antes toda a cidade,
a vagabunda se encantou
com um tal de Mané Saudade.
E quando eu ia à rua
era a maior gozação:
lá vai o corno molenga,
o sustenta-Ricardão!
Comprei a navalha que era
do bandido Cobra Coral,
um dos mais pérfidos da cidade,
um tremendo cabra mau.
E, inspirado em sua valentia,
vou fazer a alegria
da crônica policial.
Te prepara, morena!