AMOR NA MORTE
O que o sonho não me disse
foi que me encontrava acordado
a delirar com o mundo que sou
e mundo que vejo fora de mim.
Fiz faísca com o dedo de Deus,
nunca mais me olhou sequer.
Separei-me do que me fez
para ser o que faço, em nome
da vaidade disfaçada de liberdade
em cantos escuros, noites brilhantes,
embebido no romance que é viver.
Amor foi quando nada mais tinha
para te dar senão o meu sorriso
e tu o aceitaste como se fosse
a maior dávida vinda dos céus
mesmo no meio de toda aquela guerra.
Chorei... Percebi que te perdera
mas, também, nunca tinhas sido de ninguém
senão de ti própria como sempre
te dizia ao ouvido como uma mosca,
como um pequeno insecto senti-me
insignificante e injustiçado
por ter apenas o que não me servia,
por teres livre arbitrio e nada
na realidade porderes decidir.
Cheguei bem perto da minha cova,
centímetros cavados por quem
não tinha culpa de eu ter nascido
e que ganhava assim a vida.
Dei meia volta e gritei para dentro
como se deixasse de respirar
e por momentos senti-me bem
com o que sabia não poder controlar.
Um buraco... Haverá sempre um
à minha espera com terra
já tantas vezes antes habitada
por bichos bem mais merecedores
de um pequeno espaço que eu.
É bem que toda a fantochada
acabe quando os bonecos estão fartos
e a pequenada já dorme
ou já não acha piada.
Não tenciono levar nada,
nem mesmo memórias, talvez só
mesmo aquele meu sorriso
na esperança que um dia
também faças faísca e percebas
o que sempre vi, que és
especial e que eu fui feito para ti.