AMOR NA MORTE

O que o sonho não me disse

foi que me encontrava acordado

a delirar com o mundo que sou

e mundo que vejo fora de mim.

Fiz faísca com o dedo de Deus,

nunca mais me olhou sequer.

Separei-me do que me fez

para ser o que faço, em nome

da vaidade disfaçada de liberdade

em cantos escuros, noites brilhantes,

embebido no romance que é viver.

Amor foi quando nada mais tinha

para te dar senão o meu sorriso

e tu o aceitaste como se fosse

a maior dávida vinda dos céus

mesmo no meio de toda aquela guerra.

Chorei... Percebi que te perdera

mas, também, nunca tinhas sido de ninguém

senão de ti própria como sempre

te dizia ao ouvido como uma mosca,

como um pequeno insecto senti-me

insignificante e injustiçado

por ter apenas o que não me servia,

por teres livre arbitrio e nada

na realidade porderes decidir.

Cheguei bem perto da minha cova,

centímetros cavados por quem

não tinha culpa de eu ter nascido

e que ganhava assim a vida.

Dei meia volta e gritei para dentro

como se deixasse de respirar

e por momentos senti-me bem

com o que sabia não poder controlar.

Um buraco... Haverá sempre um

à minha espera com terra

já tantas vezes antes habitada

por bichos bem mais merecedores

de um pequeno espaço que eu.

É bem que toda a fantochada

acabe quando os bonecos estão fartos

e a pequenada já dorme

ou já não acha piada.

Não tenciono levar nada,

nem mesmo memórias, talvez só

mesmo aquele meu sorriso

na esperança que um dia

também faças faísca e percebas

o que sempre vi, que és

especial e que eu fui feito para ti.

Daniel Delgado
Enviado por Daniel Delgado em 22/05/2007
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