NÓS DE SEM VOCÊ
Ainda vivo a vida de nós dois
As rotinas, mentiras e verdades.
Retomo cada lembrança como um roteiro
Peça teatral que me encanta a cada capitulo.
Ainda falo às manhãs tudo o que lhe falava...
Deixo na mesa tua xícara com tal dosagem de cafeína
A colherada de açúcar, a mesma marca de pão
Teus condimentos, assanhamentos e tudo mais
Tudo que te agrada.
Faço nossa reza semanal
Frequento o mesmo restaurante,
A mesma mesa me sento
E ainda lhe aguardo chegar.
Ouço teu pedido de desculpas
Sinto o cheiro das flores dadas
Como recompensa por aguardar.
O cardápio não muda, a postura não muda.
Tudo e tudo permanece igual.
Ainda retardo fitando teus olhos
Passeando sob as linhas do jornal.
Ainda me pego a sorrir quando
Vejo teu olhar sarcástico para a república
E lhe repreendo pela boca suja para com tal.
Lavo ainda junto a minha roupa
Teu paletó, uso sempre a mesma quantia na compra
E assisto a merda daquilo que outrora odiava, hoje gosto,
Tuas apostas...
Ao deitar-me, sou eu quem ainda apaga o abajur
E lhe dá o copo de leite quente que me queima os dedos,
Maldito leite, ontem deixei cair e banhar tua poltrona.
Lembro de cada formato da fumaça
Que baforava ao beijar-me e ainda guardo
Em minha boca o nojento gosto de fumo canadense...
Arrumo tudo e depois bagunço só para lembrar de tua organização.
Ainda choro por tua palavra
Afogo-me ainda no teu ego
Até abrir os meus olhos,
Fechando as comportas deste
Doloroso...
Guarda-Lembranças