DEUSA DO AMOR E DA GUERRA
 
Amar desde a infância
Em segredo, na ânsia
Sufocante de exultante revelar
O que não se permite cogitar!
 
Ouvir na mente o clamor
Obsessivo do contido amor
E já não se conter ao usar
Na intimidade a língua e a boca
Para expressar os pensamentos
Que tentou inutilmente calar
– boatos do coração
que excitam os sentidos
e despertam a libido!
 
Amar com aquele amor
Que move as falanges dos pés
Em marcha por território
Desconhecido e inexplorado;
Que move as falanges das mãos
Pelo corpo nu do mesmo modo
Que as falanges macedônias
Se movem em planícies descampadas! 
 
Amar com aquele amor
Que nasce da amizade
Pura e sincera – da cumplicidade –
E leva o guerreiro a lutar com paixão
No campo de batalha não
Pelo seu Reino, mas pelo seu Rei
Vigoroso e intrépido, pela vida
De seu grande amor como se fosse
Pela própria, pois sabe que não suportaria
Em batalha sobreviver a mais um dia
Sem seu companheiro de campanha
– inseparáveis no calor do amor ou da guerra,
estejam deitados – deleitados – sobre o leito
ou marchando com fúria sobre a terra!
 
Amar com aquele amor
Que não conhece o corpo, mas a alma;
Que não conhece gênero ou posição
Em adereços ou indumentárias;
Que não permite à bainha
Ofuscar o brilho da espada!
 
Que faz sentir o calor e o suor
Dos corpos a aquecerem
As lâminas em batalha para vê-las
Rijas e rúbeas escorrerem
No nascer de uma nova Alexandria!
 
Qual forja aquece mais Hefesto,
A que está abaixo ou acima do ventre?
Será aquela que aquece a espada
E que a deixa rubra – incandescente?
Que faz lançar-se à guerra por amor
A Atena para a paz poder desfrutar
Com paixão nas lascivas coxas de Afrodite?!!
 
Quando vê Atena
No campo de batalha
A deseja com furor:
Deseja se entregar ao seu amor
Ou à penetração de sua lança!
 
Quando vê Afrodite
No acampamento militar a possui
Com delicadeza após mimá-la,
Submisso aos seus pés,
Submetido pelo seu poder de sedução,
Cativo por sua beleza
E seduzido por suas virilhas
– sentindo o aroma da suculenta fruta,
percebe que não são apenas as maçãs
ruborizadas da deusa do amor
e seus pomos dourados
mais desconcertantes e fascinantes
que aquele do Jardim das Hespérides
lançado ao banquete por Éris,
capaz de levar homens e deuses
a conflitos épicos e guerras
em um farto banquete degustado
por Ares e pelas Queres
à sombra do tétrico Hades!
 
De Hefesto apenas o amor!
Amor que por muito tempo lutou
Para reprimir até lançar o escudo ao pó
Quando o desejo era de total entrega;
Até ver todo o seu corpo
Em delicioso e perigoso motim;
Até levar a luta para a cama
E exigir de suas carnes e cútis
Rendição total e incondicional
Ao seu Rei e magno General
– nunca sentiu tão prazeroso
e doce o sabor da derrota!
 
De Hefesto não a forma disforme,
Mas a semelhança do nome
E a forja que arde pelas duas faces
De deusa helena vistas a cada dia
No corpo magnífico que o consome!  

Julia Lopez

23/12/2014
 
 

Nota sobre a foto: Estátua de Athena Parthenos no Rubens House em Antuérpia, Bélgica (trabalho fotográfico de Jessyej no DeviantArt).

 


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Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 23/12/2014
Reeditado em 10/01/2024
Código do texto: T5078542
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