Água Que Lava
Lava-se de tudo com a água bendita.
Mas não se lava uma vida perdida
Com águas vertidas em lágrimas de dor.
Ah, como dói na alma os desencantos do amor !
Lava-se de tudo com a água corrente.
Caída em véu das alturas das pedras
para mudar o meu olhar do breu da treva
Contemplá-la a correr pelo leito como um sorriso do céu !
Lava-se de tudo com a água do mar.
Lava-se a areia, o barco e a sereia.
Lava-se o pé da morena, da loira e até da sarará.
Não se lava a lua poente que nela toca sem se molhar !
Vertida das nuvens negras e carrancudas,
Lava-se de tudo com a água da chuva.
Lava-se o suor do trabalho pesado,
Mas não se lava as marcas do coração açoitado !
CCRF, 2012.