Água Que Lava

Lava-se de tudo com a água bendita.

Mas não se lava uma vida perdida

Com águas vertidas em lágrimas de dor.

Ah, como dói na alma os desencantos do amor !

Lava-se de tudo com a água corrente.

Caída em véu das alturas das pedras

para mudar o meu olhar do breu da treva

Contemplá-la a correr pelo leito como um sorriso do céu !

Lava-se de tudo com a água do mar.

Lava-se a areia, o barco e a sereia.

Lava-se o pé da morena, da loira e até da sarará.

Não se lava a lua poente que nela toca sem se molhar !

Vertida das nuvens negras e carrancudas,

Lava-se de tudo com a água da chuva.

Lava-se o suor do trabalho pesado,

Mas não se lava as marcas do coração açoitado !

CCRF, 2012.

Dimas Soares
Enviado por Dimas Soares em 26/12/2014
Reeditado em 04/02/2019
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