De mãos dadas

Diante da janela aberta

onde a luz do verão invade tudo;

diante da gentil saudação do bem-ti-vi,

do assanhamento azulino do sanhaço

e do que me vai no coração,

vale repetir o verso de Drummond:

" Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

Já que esse é tempo de partida,

já que esse é tempo de coração partido,

vamos de mãos dadas.

Se é preciso subir barrancos,

escalar montanhas,

abismos a transpor,

vendavais a resistir,

pedras a remover do caminho,

vamos de mãos dadas.

Porque não se pode perder a sensatez

em momentos críticos;

porque acima da verdade de cada um

está a verdade que nos é dado conhecer.

Vamos de mãos dadas

porque a arte de viver requer

muito empenho, e qualquer tempo

é tempo de tentar novos caminhos

e um ponto de equilíbrio.

Vamos de mãos dadas

para conservar a capacidade de amar,

amar apesar de toda dor,

vamos de mãos dadas

para que se apaguem as mágoas,

porque ainda se pode plantar flores,

catar conchas no mar e sonhar.

Vamos de mãos dadas, por aí...

recolher na alma as tulipas,

as turquesas e as águas marinhas...

Vamos de mãos dadas

para garantir a supremacia

do sonho e da poesia

sobre a aridez da realidade

e a crueldade do destino.

Vamos de mãos dadas, amor

pois este é o tempo de mãos dadas.

E se não fosse ficaria sendo,

porque neste instante o coração amoroso,

mas combalido entre as dores do mundo,

a melancolia das incertezas,

e a teimosia que sustenta sempre

as últimas esperanças, assim decreta:

"não nos afastemos muito,

vamos de mãos dadas."

Aziul
Enviado por Aziul em 15/01/2015
Reeditado em 30/03/2015
Código do texto: T5102486
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