FORMAS DE AMAR


Quero um amante iniciado
porque o amor é o meu motivo.
Portanto, meu amado,
enquanto purifico minhas mãos
e me torno radiante à porta da entrada,
você, que me espera encantado,
guarde seus defeitos mais triviais
na gaveta do armário.

E vamos tornar o amor rotineiro,
até o ponto de nos exaurirmos
no espaço em que nos amamos;
até o ponto de desarraigar
o corpo pelo qual nos amamos.
Porque a todo momento
o gesto e a palavra são preconizados,
a criação encontrará em nós
um meio de experimentar o seu poder;
a criação experimentará em nós
as formas mais terrenas de se conceber
a vida como forma de adoração.
E nosso ritual se gera
como busca de atingir pela matéria,
a forma angelical que há na essência do ser.

Quero um amante iniciado
porque na terra sou aprendiz de feiticeiro,
porque o céu é a minha busca
e na minha busca há um amor inteiro.

Quero um amante leigo
porque o amor é o meu motivo.
Portanto, meu amado,
enquanto eu abandono minhas vestes
e deixo minha bagagem na porta da entrada
você, que me espera contido,
tire os seus defeitos mais triviais
da gaveta do armário.

E vamos ritualizar o amor
até o ponto de tornar sagrado
o espaço em que nos amamos;
até o ponto de tornar altar
o corpo pelo qual nos amamos.
Sem que em nenhum momento
o gesto ou a palavra
tenham sido premeditados,
a criação encontrará em nós
um meio de experimentar o seu poder;
a criação experimentará em nós
as formas mais celestes de se conceber
a vida como forma de adoração.
E o nosso ritual se gera
como busca de atingir em outra esfera,
a forma angelical que há na essência do ser.

Quero um amante leigo porque
dispenso ser aprendiz de feiticeiro,
porque o amor é o meu motivo
e no meu motivo há um amor inteiro.