SEUS OLHOS SEMPRE PUROS

Dias de lentidão, dias de chuva,

Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,

Dias de pálpebras fechadas ao horizonte

[ dos mares,

De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas

E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,

A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça

E contemplar seu próprio corpo obediente e vão.

Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,

Deuses de prata que tinham safiras nas mãos,

Deuses verdadeiros, pássaros na terra

E na água, vi-os.

Suas asas são as minhas, nada mais existe

Senão o seu vôo a sacudir minha miséria.

Seu vôo de estrela e luz,

Seu vôo de terra, seu vôo de pedra

Sobre as vagas de suas asas.

Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.

Paul Éluard
Enviado por Luanna Lino em 15/02/2015
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