Traições

Malha a bigorna o coxo Hefesto
enquanto remói o ciúme e o resto.

Maldito Ares (!), vocifera.
Maldita besta-fera que trouxe o gozo para Afrodite, 
amante insaciada,
qual fêmea alucinada.

Deuses! É hora da justa vingança
(nela repousa a última esperança).
Expulsemos a febre malsã, de todo amanhã.

Que se exponha à censura, a vergonha do adúlteros.
Que lhes cessem toda mesura, 
pois eis que trairam
o sonho,
que ao ferreiro permitiram.

Que gemam cativos na rede dos mortos-vivos.
Que peçam clemência pelo estupro da inocência.
E que implorem por um gesto de nobreza,
pela impudíca paixão acesa.
 
Que nada mais se lhes conceda,
pois macularam o Olimpo.
Que morram como os mortais,
e que Hesíodo, para sempre,
cante a infâmia dos imorais.


 
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015