O AMOR QUE EU NÃO FIZ
O amor que eu não fiz
não foi porque eu não quis,
era totalmente devasso
e tinha muito, muito
tesão acumulado
com beijos molhados,
roubados e sorrateiros
e carícias ousadas
pelo corpo inteiro
era tresloucado
de desejo suado
e recheado de pecado
bem inconseqüente
ardente
depois, virou
um sentimento triste
e bolorento
desajustado
mas que insiste
adoidado
nesse tormento
louco para ser
devorado
O amor que eu não fiz
mas que eu sempre quis
tinha a sutileza do cetim
em lençóis cor de carmim
e tanto hoje como outrora
insiste em ficar na memória
como falsa fantasia
triste e insatisfatória
O amor que não fiz
e que tanto quis,
ressoava
como toques de clarim
e se espalhava
no aconchego dos jardim
pelos bancos da praça
sob o luar da madrugada
e por entre a bruma
se anunciava
alucinado
voando feito pluma
mas docemente safado
era como uma romaria
atrás de milagre de algum santo
mas com lindas alegorias
inutilmente tentando
fugir da nostalgia
O amor que eu não fiz
se tornou cheio de renúncias
e por isso mesmo, infeliz
devorado pela angústia
mascarando o sentimento
transformou-se em injúrias
cheio de lamentos
mas me abraçava
com doçura dobrada
me subjugava
de forma encantada
me levava por trilhas
sem saber se ia dar em nada
e essas armadilhas
absurdas e desatinadas
eram difíceis
de serem desbravadas
O amor que eu não fiz
mas queria ter feito e como quis!
era como chuva fina
no meu corpo suado
fazendo com que o amor
bandido e deturpado
fosse como a dor
de ser por alguém, enganado
transformado em cacos
como cristal quebrado
e marcou como tatuagem
feita a ferro e fogo
com toda voragem
fazendo parte do todo
no beijo e no gosto
mesmo imperfeito no coração
e até na contra-mão
mas ardente de paixão
mas tudo não passou
de impressão
que até hoje
gera comoção
O amor que eu não fiz
e que sempre quis
era como um furacão
em plena erupção
como uma tempestade
arrasando quarteirão
era por demais voraz
alastrando-se com saudade
pois não encontrou a paz
mas fiz em pensamento
e acho que fui feliz
fui iluminada pelos seus olhos
e fascinada me entreguei
e até sua roupa rasguei
e ao lhe ver louco
como se tudo e nada
fosse pouco
sentindo seu trêmulo corpo
a minha pele ardeu
de jeito ensandecido
profano e ateu
pura fantasia
do meu eu
apenas utopia
O amor que eu não fiz
e sempre quis
hoje já não importa
foi uma luta inglória
sem vencedor e sem derrota
apenas coisa ilusória
pelas estradas da vida
uma triste história
interrompida
sem vírgula
sem ponto de exclamação
sem ponto final
com interrogação
e esse é o mal.
O amor que não fiz
e que sempre pensei que quis
foi indefeso
um contrapeso
de maneira desmedida
foi um trágico desejo
como um desterro
com ciúme em exagero
e foi também diferente
e hoje sei realmente
que esse amor que não fiz
e que sempre pensei que quis
não me faria feliz!
by Sônia Maria Grillo
(Baby®)
26.04.2007
Rio de Janeiro-RJ
Inspirado no poema O AMOR QUE NUNCA FIZ de autoria de Silvana Duboc.