EQUÍVOCO

Vê como penso:

Ontem, perdeste-me. Nem sabes quando ou porquê.

Ainda assim, amei-te num amor magoado

que o tempo marcou mais na alma do que no rosto,

[como um fogo que não morre e que não pode ser apagado].

Na tua ausência, afastei as melodias que nos tocaram,

condenando as suas letras ao degredo

[Os sentidos privei do que pudesse potenciar a memória.

Ás palavras acedo apenas em silêncio e em segredo].

Fugi de mim como se pudesse esquecer desejo ardente sob o qual tremi

Concentrei-me no momento em descobri toda a trama:

Ardil. Traição. Enredo que roubou mais que a inocência...

A verdade que absorvi como veneno: não te ama, não te ama...

Ser feliz... O meu corpo como cálice que levaste aos lábios...

Um altar de carne e cetim erguido entre paredes brancas,

Desejos que se transformaram em loucura e fatalidade,

levaram à morte do arrepio e do suspiro, no movimento das ancas.

Não... É tarde e de tão tardia hora, o meu peito não contém a dúvida:

Ainda que não acreditando numa felicidade que tarda...

Por que razão, te equaciono hoje, se ontem me perdeste?

(Ema Moura)

Inspirado no poema Renascer, de Geraldo Coelho Zacarias.

EMA MOURA
Enviado por Coelho Zacarias em 21/04/2015
Código do texto: T5215506
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