SEREI UM DIA

Das rosas que te deram,

Quantas com ferozes espinhos,

Ninhos de contrariedades, quantos,

Nascerei roseira sem arame,

Nascerei perfume e não manchado sangue,

Nascerei sem vaso cerâmico,

Terás porque oferecer o rosto tão perto,

Amorosa poesia comporei em terra e água,

Barro, pó, sopro, canção, roseira, amor, decerto...

Aos nãos que te ofereceram vibrarei os sins

Ocultos em cada letra separada,

Terás todas as portas abertas

Às canções sonhadas e distantes,

Te serei o que permite sem permitir,

O livre, o que pode ir,

O caos repleto de caos,

E a cada sim dito ouvirás um grito

Que te será a senha para quem desdenha

Deixar-te ouvir o infinito.

Poeta de tetas vastas e leite úmido e púbere e secreto,

Te serei o campo com girassóis abertos e sorridentes,

O touro que venceu o medo e saltou muralhas de Espanha,

A labareda que esquenta a música dos ciganos nos jardins do Éden,

Te serei o interruptor para tempestades fora de estação,

Serei, para sempre, o amor incorruptível que nasce livre,

Caminha e cresce feito rio vertical e atinge o celeste cofre

Que, réplica dele em terra, é teu coração, vida e morte.