Uma vez na rua

Leva-me para a rua,

Mesmo que sob protesto,

E ainda que chova,

Deixa-nos ficar sem abrigo.

Expostos e em abraço forçado,

Respiremos juntos, somente,

Até que o peito acerte o compasso

E o silêncio tome conta dos lábios.

Palavra alguma deverá interpor-se

Entre os meus olhos e os teus,

E se me esquivar, como faço sempre,

Está nas tuas mãos, deter-me.

Não te zangues, nem desesperes

Tu sabes que serei como uma enguia,

A escapar-se por entre dedos,

Mas com igual desejo de ficar.

É uma luta shakespeariana

Entre o querer e o pensar.

É um medo de tocar e estragar,

Como faço sempre…

Pudesse eu evitar ser tão escorregadia

Pudesses tu evitar ser assim tão meu desejo

Voltasse eu a sonhar o nosso sonho

Serias, mesmo, só meu?

Basta que me faças sorrir, uma vez mais…

Um sorriso, que irrompe involuntário

Tem um efeito endiabrado,

É a ruína de qualquer protesto!

Direi: - Detesto-te!

Mas não arredarei pé,

Deixarei que tomes o meu pulso,

me sintas com o coração na boca…

É um plano arriscado,

mas uma vez na rua,

Todas as escolhas são caminhos,

E todos os caminhos convergem para ti!

Ema Moura, 25/11/2014, em Broken Wings, poema ilustrado com fotografia de Fábio Martins, confere: http://emoura-brokenwings.blogspot.pt/2014/11/uma-vez-na-rua.html

Ema Moura
Enviado por Ema Moura em 02/05/2015
Código do texto: T5227691
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